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Munafa ebook

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Words: 47698 in 33 pages

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, que, por amor d'ella, arri?avam e empoavam as cabelleiras com um desgracioso esmero, ou cavalleavam estrepitosamente na cal?ada os seus ginetes, fingindo que os picadores da provincia n?o desconheciam as gra?as hippicas do marquez de Marialva.

N?o o cuidava assim, por?m, o juiz de f?ra. O intriguista que lhe trazia o espirito em ancias era o seu espelho. Via-se sinceramente feio, e conhecia Rita cada vez mais em fl?r, e mais enfadada no trato intimo. Nenhum exemplo da historia antiga, exemplo de amor sem quebra entre o esposo deforme e a esposa linda, lhe occorria. Um s? lhe mortificava a memoria, e esse, com quanto fosse da fabula, era-lhe av?sso, e vinha a ser o casamento de Venus e Vulcano. Lembravam-lhe as r?des que o ferreiro coixo fabric?ra para apanhar os deuses adulteros, e assombrava-se da paciencia d'aquelle marido. Entre si, dizia elle, que, erguido o v?o da perfidia, nem se queixaria a Jupiter, nem armaria ratoeiras aos primos. A par do bacamarte de Luiz Botelho, que var?ra em terra o alferes, estava uma fileira de bacamartes em que o juiz de f?ra era entendido com muito superior intelligencia ? que revelava na comprehens?o do Digesto e das Ordena??es do Reino.

Este viver de sobresaltos durou seis annos, ou mais seria. O juiz de f?ra empenh?ra os seus amigos na transferencia, e conseguiu mais do que ambicionava: foi nomeado provedor para Lamego. Rita Preciosa deixou saudades em Villa Real, e duradoura memoria da sua soberba, formosura e gra?as de espirito. O marido tambem deixou anecdotas que ainda agora se repetem. Duas contarei s?mente para n?o enfadar. Acontec?ra um lavrador mandar-lhe o presenle de uma vitella, e mandar com ella a vacca para se n?o desgarrar a filha. Domingos Botelho mandou recolher ? loja a vitella e a vacca, dizendo que quem dava a filha dava a m?e. Outra vez, deu-se o caso de lhe mandarem um presente de pasteis em rica salva de prata. O juiz de f?ra repartiu os pasteis pelos meninos, e mandou guardar a salva, dizendo que receberia como escarneo um presente de d?ces, que valiam dez patac?es, sendo que naturalmente os pasteis tinham vindo como ornato da bandeja. E assim ? que ainda hoje, em Villa Real, quando se d? um caso analogo de ficar alguem com o conte?do e continente, diz a gente da terra:

N?o tenho assumpto de tradi??o com que possa deter-me em miudezas da vida do provedor em Lamego. Escassamente sei que D. Rita aborrecia a comarca, e amea?ava o marido de ir com os seus cinco filhos para Lisboa, se elle n?o sahisse d'aquella intratavel terra. Parece que a fidalguia de Lamego, em todo o tempo orgulhosa d'uma antiguidade, que principia na acclama??o de Almacave, desdenhou a philaucia da dama do pa?o, e esmerilhou certas vergonteas p?dres do tronco dos Botelhos Correias de Mesquita, desprimorando-lhe as s?s com o facto de elle ter vivido dois annos em Coimbra tocando flauta.

Em 1801 achamos Domingos Jos? Correia Botelho de Mesquita corregedor em Vizeu.

Manoel, o mais velho de seus filhos, tem vinte e dois annos, e frequenta o segundo anno juridico. Sim?o, que tem quinze, estuda humanidades em Coimbra. As tres meninas s?o o prazer e a vida toda do cora??o de sua m?e.

O filho mais velho escreveu a seu pae queixando-se de n?o poder viver com seu irm?o, temeroso do genio sanguinario d'elle. Conta que a cada passo se v? amea?ado na vida, porque Sim?o emprega em pistolas o dinheiro dos livros, e convive com os mais famosos perturbadores da academia, e corre de noite as ruas insultando os habitantes e provocando-os ? luta com assuadas. O corregedor admira a bravura de seu filho Sim?o, e diz ? consternada m?e que o rapaz ? a figura e o genio de seu bisav? Paulo Botelho Correia, o mais valente fidalgo que d?ra Traz-os-Montes.

Manoel, cada vez mais aterrado das arremettidas de Sim?o, s?e de Coimbra antes de ferias, e vai a Vizeu queixar-se, e pedir que lhe d? seu pae outro destino. D. Rita quer que seu filho seja cadete de cavallaria. De Vizeu parte para Bragan?a Manoel Botelho, e justifica-se nobre dos quatro costados para ser cadete.

No entanto Sim?o recolhe a Vizeu com os seus exames feitos e approvados. O pae maravilha-se do talento do filho, e desculpa-o da extravagancia por amor do talento. Pede-lhe explica??es do seu mau viver com Manoel, e elle responde que seu irm?o o quer for?ar a viver monasticamente.

Os quinze annos de Sim?o tem apparencias de vinte. ? forte de complei??o; bello homem com as fei??es de sua m?e, e a corpolencia d'ella; mas de todo av?sso em genio. Na plebe de Vizeu ? que elle escolhe amigos e companheiros. Se D. Rita lhe censura a indigna elei??o que faz, Sim?o zomba das genealogias, e m?rmente do general Caldeir?o que morreu frito. Isto bastou para elle grangear a mal-queren?a de sua m?e. O corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou parte no desgosto d'ella, e na avers?o ao filho. As irm?s temiam-no, tirante Rita, a mais nova, com quem elle brincava puerilmente, e a quem obedecia, se lhe ella pedia, com meiguices de crian?a, que n?o andasse com pessoas mecanicas.

Finalisavam as ferias, quando o corregedor teve um grave dissabor. Um de seus criados tinha ido levar a beber os machos, e por descuido ou proposito deixou quebrar algumas vasilhas que estavam ? vez no parapeito do chafariz. Os donos das vazilhas conjuraram contra o criado, e espancaram-no. Sim?o passava n'esse ensejo; e, armado d'um fueiro que descravou d'um carro, partiu muitas cabe?as, e rematou o tragico espectaculo pela far?a de quebrar todos os cantaros. O povoleu intacto fugira espavorido, que ninguem se atrevia ao filho do corregedor; os feridos, por?m, incorporaram-se e foram clamar justi?a ? porta do magistrado.

Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao meirinho geral que o prendesse ? sua ordem. D. Rita, n?o menos irritada, mas irritada como m?e, mandou, por portas travessas, dinheiro ao filho para que, sem deten?a, fugisse para Coimbra, e esperasse l? o perd?o do pae.


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