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Munafa ebook

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Read Ebook: As Farpas: Chronica Mensal da Politica das Letras e dos Costumes (1877-08/09) by Ortig O Ramalho Editor Queir S E A De Editor

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Ebook has 220 lines and 19987 words, and 5 pages

Vidago... d'agosto. Sua magestade Excelso Soberano, acompanhado duas phylarmonicas e quarenta maiores contribuintes montados quarenta maiores eguas, chegou sem novidade real saude. Indiscriptivel jubilo povo.

Vidago... d'Agosto. Excelso Soberano foi tomar aguas 10 horas. Voltou tomar aguas 4 horas. Jantou 6 horas. Centenares de pessoas presencearam acto Excelso Soberano tomar aguas. Grande ardor geral pelas institui??es monarchicas e pela dynastia. Jubilo povo tende a augmentar, se possivel f?r.

Vidago... d'agosto. Excelso Soberano encontrou real passagem dois rapazes de joelhos. Excelso Soberano afagou. Lagrimas punhos faces pessoas viram Excelso Soberano afagar rapazes joelhos. Jubilo povo toca zenith.

CAPITULO X

Vidago... d'agosto. Excelso soberano partiu tarde acompanhado phylarmonicas, contribuintes e maiores egoas. Estes logares, ausencia excelso soberano e real sequito, convertidos triste ermo. Jubilo povo impossivel descrever palavras humanas.

Porto... d'agosto. Hoje, fim da tarde, entrada triumphal n'este Baluarte liberdade sua magestade Anjo da Caridade acompanhada de suas altezas Louras Crean?as. Jubilo povo de Baluarte e concelhos ruraes adjacentes delirante.

Porto... d'agosto. Presidente camara municipal disse a Anjo da Caridade que Baluarte se gloriava ter Anjo no seio. Jubilo povo frenetico.

Porto... d'agosto. Louras crean?as passear Palacio Crystal. Anjo n?o passeiar Palacio Crystal. Jubilo povo febril.

Porto... d'agosto. Anjo e Louras Crean?as foram photographar-se ao atelier Fritz. Duas innocentes meninas entregaram ramos de flores a Anjo da Caridade. Anjo afagou. Circumstantes lagrimas em fio pelas faces. Anjo e Louras Crean?as retrataram-se em cinco posi??es differentes, que s?o todas as posi??es de que ? susceptivel o corpo humano, a saber: em p?, sentados, ajoelhados, acocorados e deitados. Jubilo povo vertiginoso.

Porto... d'agosto. Neto heroico Pedro IV, Anjo Caridade e Louras Crean?as regressam hoje comboyo expresso a Lisboa. Governador civil, bispo, senhoras, beijar m?o Neto, Anjo, Louras Crean?as. Derradeiro adeus esta??o. Baluarte liberdade sem Louras Crean?as, Anjo e Neto, medonho ermo. Jubilo povo intradusivel linguagem humana.

NOTAS

AOS ANNAES DA VIAGEM DE SUAS MAGESTADES E ALTEZAS

O precedente estabelecido pelos touristes do Bussaco deixa-nos por?m immersos na mais acerba incerteza ?cerca dos pontos da superficie solida do reino em que nos ? licito comermos peixe sem invadirmos as residencias de suas magestades.

Porque, desde o momento em que n?o s? as grandes serras mas tambem as bacias dos valles adjacentes se consideram, pela jurisprudencia invocada no Bussaco, como dependencias dos aposentos da real familia, ficamos perplexos sobre se o safio que pesc?mos esta manh? no logar do Bico na praia da Cruz Quebrada o poderemos comer em nossa casa sem por este facto invadirmos, posto que inconscientemente, a sala de jantar dos nossos reis. E pedimos ardentemente para sermos esclarecidos sobre a solu??o d'este problema:

Dado um safio pescado ? linha na ponta do Bico na praia da Cruz Quebrada; achando-se a Cruz Quebrada na dependencia geologica do Pa?o de Queluz pelo valle da ribeira do Jamor, e do Pa?o da Ajuda pelas quebradas e pelas vertentes da serra de Monsanto; achando-se por outro lado o safio ao lume dentro do seu respectivo tacho, entre duas camadas de cebola e tomate, com o competente fio d'azeite e o devido piment?o; tendo tido cinco minutos de fervura e havendo sido sacudido por duas vezes sem se destapar o tacho;

Pergunta-se:

Se podemos passar a comer o safio, collocados na dita latitude da Cruz Quebrada, entre os reaes pa?os de Queluz e da Ajuda, sem por esse acto faltarmos ao respeito devido ? inviolabilidade das montanhas, dos valles e das ribeiras que suas magestades se dignaram eleger para residir.

Esperamos, com o safio ao lume e com o acatamento mais profundo pelas reaes ordens, que o sr. Barros e Cunha, encarregado juntamente com o sr. Alcobia de transformar as matas do reino em aposentos de sua magestade, queira dizer-nos se o monte em que habitamos pertence ou n?o ao numero d'aquelles que s. ex.? se acha mobilando para recreio de suas magestades em collabora??o com o seu socio nas reformas do ministerio das obras publicas o sr. estofador Alcobia.

E o paiz todo beijar? reconhecido a m?o energica dos srs. conselheiros da coroa Alcobia e Barros e Cunha!

El-rei encontrava todos os dias, em determinado ponto dos seus passeios, dois rapazes que se ajoelhavam por occasi?o da passagem de sua magestade. El-rei commovido com a precocidade de uma bajula??o t?o vigorosa manifestada em annos t?o verdes, indagou-se uma tal affirma??o de subserviencia procedia de prele??es previas dadas por algum aulico ou se representava um movimento instinctivo no caracter dos dois adolescentes. Descobriu-se que os meninos ajoelhavam por effeito da mais pura pusilanimidade organica. Sua magestade resolveu, em vista de t?o honrosas informa??es, levar comsigo os dois esperan?osos jovens e encarregar-se da sua educa??o. Foram esses dois rapazes os que entraram em trinmpho na cidade do Porto, indo em carruagem descoberta e precorrendo as ruas adiante da carruagem de sua magestade. N?o sabemos se durante todo o precurso do cortejo os rapazes se conservaram, como deviam, sempre de joelhos. O que ? certo ? que o quadro a que nos referimos commoveu muito as pessoas que o presencearam, segundo asseveram todas as noticias do Porto e de Vidago.

Folgamos de poder completar as informa??es colhidas por el-rei ?cerca dos seus pupillos com o fructo das nossas proprias indaga??es, porque ? de saber que os rapazes de joelhos n?o apparecem unicamente a sua magestade, apparecem a todos aquelles que viajam nas estradas do Minho e de Traz-os-Montes. O que escreve estas linhas por mais de uma vez se encontrou com o commovente quadro, n?o deixando nunca de o saudar com um expressivo meneio do seu bord?o, perante o qual os rapazes em joelhos se punham em p? com uma velocidade cheia de convic??o e de enthusiasmo. E n?s, ent?o, diziamos-lhes com a mais pesada voz:

Depois de praticas da natureza d'esta, que nunca deixamos de fazer aos rapazes que nos appareceram ajoelhados pelos caminhos, e as quaes praticas sempre acompanhamos de temerosos gestos mostrando o punho cerrado e os bicos dos nossos sapatos--de tres solas repregados de terriveis tachas vingadoras, de duas azas, do tamanho de moscardos--concluiamos por uma eloquente perora??o perguntando aos rapazes onde era a escola.

Temos a honra de informar sua magestade el-rei que os rapazes que apparecem de joelhos pelas estradas n?o sabem nunca onde fica a escola.

Os paes n?o os ensinam a ler. Creados na abjec??o da mendicidade, habituados a fingir, a choramigar, a carpir, costumados desde pequenos a serem maltratados, repellidos, injuriados, tornam-se homens servis, rasteiros, malevolos, vingativos, mandri?es e covardes.

S?o elles os que em maior numero contribuem para o consumo das facas de ponta, para o exercicio das policias correccionaes, para o repovoamento successivo das cadeias e dos hospitaes.

Sua magestade esqueceu que, em quanto esses rebentos da pregui?a, esses embri?es do vicio e da miseria se ajoelhavam aos seus p?s, outros pequenos cidad?os uteis estavam na escola ou nos casaes circumvisinhos, uns aprendendo a ler, outros ajudando as suas m?es a metter o p?o ao forno, a deitar o feno ?s vacas, a acarretar a lenha, a enfeichar as medas ou a debulhar o milho.

Sua magestade, agasalhando os vadios e expondo-os em triumpho aos olhos dos laboriosos, deu um exemplo que influir? nos costumes e a que pod?mos chamar:--o premio Monthyon da malandrice.

Um attentado unico sem precedentes nos fastos do arbitrio executivo acaba de ser impunemente perpetrado contra a ordem moral por um ministro da cor?a, o sr. Barros e Cunha.

Quando os erros dos ministros versam sobre os negocios das suas respectivas secretarias a critica pode consideral-os sem protesto, como phenomenos normaes em um regimen em dissolu??o destinado a acabar um pouco mais tarde ou um pouco mais cedo.

Quando por?m a ac??o do poder exorbita da mancommuna??o ministerial, da intriga parlamentar e da fic??o administrativa, para invadir a esphera do trabalho individual e para violar accintosamente os direitos inalienaveis dos cidad?os, a critica deixa ent?o de proceder pelo desdem, e embora continue a sorrir, tem o dever de pegar no mesmo ti??o com que Renaldo de Montauban chamusca no poema gaulez as barbas de Carlos Magno, e de barbear s. ex.? o alto funccionario delinquente.

Precisamos de esbo?ar um pouco de mais alto a physionomia do personagem antes de nos occuparmos da natureza dos seus ultimos actos.

Classificado desde logo na familia zoologica dos mediocraceos, foi declarado inoffensivo pela unanimidade dos votos de ambos os lados da camara. O uso quotidiano de uma palavra irresponsavel, que elle debalde tentava sublinhar malignamente sem conseguir que ninguem se occupasse em a controverter, deu-lhe a facilidade de emittir intermitentemente um determinado numero de sons articulados sem connex?o logica, sem forma litteraria, sem criterio philosophico, sem intuito politico, os quaes sons reunidos constituem a collec??o dos discursos parlamentares de s. ex.?.

No discurso proferido viam-se desfilar processionalmente as diversas partes da ora??o, cadenceadas, graves, acertando o passo, olhando para acenar, esperando umas, correndo outras para alinhar o prestito, fazendo roda entre parentheses para entoar um moteto, detendo-se para fazer signaes orthograficos a um adjectivo retardatario, continuando em seguida, para tornarem a parar d'ahi a pouco em torno de um verbo irregular, e proseguirem outra vez atraz de uma interjei??o de duvida ou incerteza. At? que, sentindo-se cahir a tarde, principiando a esfalfar os membros do discurso, come?ando os adjectivos a sentarem-se pelos passeios, os substantivos a tirarem as botas a os adverbios a pedirem de beber, via-se finalmente, ao longe, por entre as tochas, envolto no p? do caminho, apontar o and?r com um simulacro de uma id?a velha, carcomida, safada, sacudida ? rua de todas as casas, impellida adeante das vassouras por todos os varredores, apanhada successivamente por todas as carro?as, e por ultimo arrancada do monturo ou do esgoto, lavada, grudada, repintada, retingida, posta em p?, especada entre duas ripes e produzida em publico por s. ex.?, n'uma exposi??o solemne, ao fundo de seis columnas de prosa alambicada e caturra.

Estas fallas eram acompanhadas por s. ex.? com variados gestos carinhosos e piegas: j? de quem amamenta as methaphoras que tem ao colo, j? de quem acaricia e afaga buli?osos tropos adjacentes, j? de quem com o bico do lapis seguro nas pontas dos dedos se compraz em picar no ambiente argumentos hypotheticos voejantes entre o orador e a mesa adormecida.

Elle no entanto sorria de quando em quando, ironico e triumphal, circumgirando pela sala no fim de cada periodo um olhar destinado a indicar ao auditorio que dentro do seu pequenino craneo a malicia de Bertholdinho se achava alliada ? finura de Polycarpo Banana.

Uma vez pelo menos em cada um d'esses discursos, quando o orador parando, tirava da algibeira da sobrecasaca o seu len?o branco e batia com os n?s dos dedos na carteira para que lhe renovassem o copo d'agua, vozes de deputados repentinamente extremunhados applaudiam-o. O que n?o consta ? que ninguem se lembrasse nunca de o contrariar.

Cahido o dente do sr. Fontes e chamado o sr. marquez d'Avila para formar novo ministerio, o sr. Barros e Cunha entrou no gabinete a titulo de <> Deputado ?s cortes em successivas legislaturas, tendo a palavra em quasi todas as sess?es, t?o vigorosamente havia servido a causa ecletica da banalidade que n?o conseguira crear um unico adversario. Taes foram os titulos que levaram s. ex. aos conselhos da cor?a.

Repentinamente investido no cargo de ministro das obras publicas, do commercio e da industria, s. ex.? para quem a industria, o commercio, as obras, eram outros tantos porticos inaccessiveis, envoltos nas trevas mais augustas, resolveu seguir uma linha de proceder que o levasse ? popularidade sem o intrometter na gerencia e na direc??o dos negocios.

No desempenho d'esta primeira parte do seu programma s. ex.? foi de uma actividade e de uma energia sem exemplo. Amanhecia a cavallo, anoitecia a cavallo, e deitava-se na cama, altas horas, para dormir um momento--tambem a cavallo. Estes exercicios de gineta amestraram o cavallo de s. ex.? at? o ponto de poder elle proprio ser ministro--em liberdade.

Nas suas digress?es pelos centros fabris das redondezas da Extremadura o zelo de s. ex.? pelos principios do seu programma administrativo n?o conhecia limites. Eis uma amostra do caracter d'essas viagens hebdomadarias:

Uma vez por semana, ?s quintas feiras, s. ex.? acompanhava os seus collegas ao Pa?o. Tendo mostrado sobre o chouto da allegoria do sr. Manuel da Assump??o que possuia uns rins de bronze; tendo provado nas digest?es accumuladas das mayonaises do sr. conde de Thomar e dos pudings da fabrica de fia??o que era dotado de um estomago d'a?o, s. ex.? aproveita os seus encontros com o soberano para convencer a c?rte, de que reune a esses dotes anathomicos a feliz particularidade de uma espinha de cebo.

Submettido ao olhar de suas magestades constatou-se que a posi??o vertical de s. ex.? dobrava como uma vela ao sol, sob a temperatura de 35 graus Reaumur. Contemplado pela rainha s. ex.? deprimia-se progressivamente, acachapando-se. O seu uniforme fazia as pregas de uma concertina que se fecha. A rainha, caridosa, olhava ent?o para outra parte a fim de que os tecidos democraticos do seu secretario de estado n?o acabassem de derreter, deixando nos degraus do throno, como despojo de quanto representara no Pa?o o departamento das obras publicas, um fardamento, uma calva e uma nodoa.

Impedido de fundir, s. ex.? procura manifestar por outros actos o ardor do seu zelo como novo aulico.

Para esse fim atropela as disposi??es legislativas que regulavam o arrendamento das casas do Bussaco entregues ? administra??o geral das mattas, rescinde os contractos legalmente feitos com os arrendatarios, expulsa as familias que habitavam o convento, e offerece este a sua magestade a rainha para ella passar a esta??o calmosa--nas casas dos outros.

Desde o tempo dos antigos aposentadores m?res, que precediam os reis absolutos nas suas viagens e faziam despejar as casas occupadas por seus donos para n'ellas se instalar a corte, nunca o servilismo ousara fazer reviver para lisongear os reis um dos mais oppressivos privilegios monarchicos, o privilegio das aposentadorias, abolido desde 1820. Os mais atrevidos e insolentes mand?es n?o ousaram j?mais ultrajar por tal modo o direito e a liberdade. Era preciso para isso ter como o sr. Barros e Cunha a natureza chineza de um mandarim; pousar no pa?o t?o passivamente e t?o irresponsavelmente como pousa um boneco de porcelana, acocorado a um canto n'uma prostra??o burlesca, bolindo automaticamente com a cabe?a e deitando a lingua de fora ou mettendo-a para dentro, segundo leva ou n?o leva da real m?o um piparote na nuca.

Para bajular el-rei como bajul?ra a rainha o mandarim sr. Jo?o Gualberto determina que obras extraordinarias se fa?am na estrada de Vidago e manda abonar por conta do ministerio das obras publicas salarios na importancia exorbitante de 10 r?is por dia aos operarios empregados em um dos lan?os da estrada alludida.

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<<1.? Que esse contrato se encontra viciado;

<<2.? Que n'elle se n?o observou o que disp?e o artigo 10.? do regulamento de 14 de abril de 1856 e circular de 15 de maio de 1862;

<<3.? Que n?o se abriu pra?a nem se fez deposito algum, conforme disp?e a circular de 15 de maio de 1857, e as clausulas e condi??es geraes de empreitadas das obras publicas de 8 de mar?o de 1861;

<<4.? Que ao contrato, por conta do qual o empreiteiro recebeu adiantadamente na importancia de 88.8892 r?is, falta a approva??o do governo, segundo o disposto no artigo 2.? das mesmas clausulas e condi??es geraes e da circular de 15 de maio de 1862:

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