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Munafa ebook

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Read Ebook: Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo 05 by Herculano Alexandre

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Ebook has 185 lines and 47875 words, and 4 pages

tes-Claros, por toda esta nobre e livre terra de Portugal, os t?tulos da nossa alforria. Com subtilisar ou torcer a historia n?o ? que se defende a patria: a sua defens?o est? em saberem seus filhos pelejar por ella, quando o soldado estrangeiro ousar accommetter a terra que nos herdaram nossos paes, e onde elles morreram livres, como n?s havemos de morrer.

A c?lebre carta de Affonso VI ao conde Henrique, ?cerca da demanda que corria entre o bispo de Coimbra e um tal D. Cibr?o sobre a ald?a de Golpelhares, em que diz que n?o a conceder? ao D. Cibr?o se pertencer ao mosteiro de Vacari?a, seria um attentado flagrante contra o direito feudal, como elle se achava j? constituido n'aquella epocha; seria offender a soberania do feudatario dentro dos seus territorios, se Portugal fosse possuido pelo conde segundo os principios da jurisprudencia feudal.

Poderia citar centenares de factos an?logos, que est?o demonstrando que taes feudatarios n?o existiam na Hespanha. Mas a demonstra??o capital d'esta verdade resulta da impossibilidade em que estava o paiz de admittir esses extensos feudos.

Vemos, pois, que a id?a de ter sido dado Portugal em feudo ao conde Henrique ? t?o repugnante e inadmiss?vel como a de lhe ter vindo em dote de sua mulher. Resta s? um meio para deixar de attribuir pura e simplesmente ? revolta do conde a sua independencia politica.

Mas, dir-se-ha, Raimundo podia d'antem?o ceder uma parte da monarchia, que lhe havia de pertencer, a Henrique, seu cunhado, primo e companheiro d'armas, a fim de que este o ajudasse com a for?a a tornar effectivo o seu direito de success?o, se este direito existia. N?o! A indole das institui??es hespanholas oppunha-se formalmente a similhante cess?o.

Nestas considera??es, a meu ver, est? a raz?o capital de se dever recusar a sanc??o historica a essas tradi??es de dotes, d'infeuda??es, de direitos hereditarios, que se tem acceitado de antigas chronicas com demasiada boa f?.

Bastaria dizer aqui que um argumento negativo bem pouco f?r?a pode ter contra provas em contrario deduzidas da propria natureza, institui??es, leis e costumes do paiz. Mas n?o ha s? isso; considerando em si o argumento, elle n?o parece dos mais vehementes no seu genero. Vejamos.

Ficarei aqui pelo que toca ao facto da origem da independencia de Portugal: algum dia examinaremos como ella se consolidou e legalisou. Chama-nos mais grave assumpto--a historia social do nosso paiz n'essa ?pocha.

A folhinha d'algibeira, tecendo o catalogo dos nossos reis, divide-se em quatro dynastias: a 1.^a Luso-Cap?ta, a 2.^a, do Mestre d'Aviz, a 3.^a dos Philippes, a 4.^a Brigantina. A folhinha resume e representa o estado da sciencia historica do nosso paiz.

Mr. Thierry, fallando das divis?es dynasticas applicadas ? historia franceza, j? observou a impropriedade de similhante systema. <>--Esta reflex?o do mais c?lebre historiador francez da ?pocha presente, ? inteiramente applicavel ao nosso paiz.

A historia pode comparar-se a uma columna polygona de marmore. Quem quizer examina-la deve andar ao redor d'ella, contempla-la em todas as suas faces. O que entre n?s se tem feito, com honrosas excep??es, ? olhar para um dos lados, contar-lhe os veios da pedra, medir-lhe a altura por palmos, pollegadas e linhas. E at? n?o sei dizer ao certo se estas indaga??es se teem applicado a uma face ou unicamente a uma aresta.

Mas ? similhante trabalho desprezivel? N?o por certo. Este exame miudo, feito com consciencia, tem grande applica??o, e ainda em si ? importante; mas dar-nos isso como a historia da na??o ?, salvo erro, enganar redondamente o genero humano; ? n?o perceber os fins da historia, a sua applica??o como sciencia; ? sobretudo fazer uma coisa, a que pod?mos chamar novella, distincta s?mente d'aquellas a que se d? tal titulo, pelo tedioso, ?rido e sem sabor da leitura que offerece.

As divis?es historicas actuaes nasceram d'este modo falso de considerar o passado. A necessidade de estabelecer uma chronologia rigorosa era evidente: os factos politicos e a vida dos homens publicos precisavam de ser fixados com exac??o no correr dos tempos, principalemente para o julgamento dos diplomas, genero de monumentos, em que as gera??es extinctas se pintam melhor, que em nenhuns outros. O erro, a meu v?r, foi acreditar que ficando-se aqui existia a historia: erro digo, e completo; porque nem se quer a biographia dos homens eminentes surgiu de taes averigua??es. Temos a certid?o do seu nascimento, baptismo, casamento e morte. Se foi um guerreiro, temos a descrip??o das suas batalhas; se legislador, a medida intellectual e moral de seu espirito, os seus habitos e costumes, n?o os conhecemos. E porque? Porque esse homem ? uma abstrac??o: est? separado do seu seculo. As opini?es, os costumes, os usos, todos os modos, emfim, de existir da ?pocha em que viveu, s?o desconhecidos para n?s; e todavia tudo isso, toda essa existencia complexa de muitos milhares de homens, a que se chama na??o, devia ter uma influencia immensa, absoluta, n'aquella existencia individual do homem illustre, que o historiador acreditou poder fazer-nos conhecer com os simples extractos de quatro chronicas, cosidos com bom ou m?u estylo ?s respectivas certid?es de baptismo, de casamento e de obito.

? por isso que, al?m de ser absurdo em these geral resumir e representar a sociedade nos individuos, tal absurdo se torna mais monstruoso, quando os tomamos como medida das phases da sociedade. O homem, assim collocado f?ra de todas as rela??es sociaes, que lhe modificaram d'este ou d'aquelle modo o aspecto moral, podendo representar todas as ?pochas, pertencer a todos os tempos, tomar todas as physionomias, nada representa, a nada pertence, nenhuma physionomia tem; e quando n'elle busc?mos a imagem do seu tempo, n?o a ach?mos, at? porque nem a d'elle proprio existe. Ajunctem-se, por?m, estas individualidades abstractas, embora na ordem do tempo constituam uma dynastia, uma s?rie de capit?es, de legisladores, de magistrados; junctas ou separadas, ellas nunca poder?o representar uma ?pocha historica; o seu apparecimento ou a sua falta nunca ser?o balisas verdadeiras das diversas transforma??es pelas quaes passam os povos na sua vida de seculos.

Mas voltemos os olhos para os monumentos d'aquellas eras antigas, em que ellas fielmente se reflectem, e fechemos os livros: busquemos a historia da sociedade e deixemos por um pouco a dos individuos. Os primeiros documentos que nos cairem nas m?os destruir?o essas illus?es: sentiremos a infinita differen?a entre uns e outros tempos: veremos que os reis, os nobres, o clero, os cidad?os, os camponezes de ent?o, eram reis, nobres, clero, cidad?os, e camponezes bem diversos dos actuaes. Pouco bastar? para nos persuadirmos de que a biographia das familias ou dos inidividuos nunca pode caracterisar qualquer ?pocha; antes, pelo contrario, a historia dos costumes, das institui??es, das id?as, ? que ha de caracterisar os individuos, ainda quando quizermos estudar exclusivamente a vida d'estes, em vez de estudar a vida do grande individuo moral, chamado povo ou na??o.

Transcreverei varios documentos relativos ao primeiro periodo da nossa historia. Ser?o os que successivamente me occorrerem, sem fazer escolha. Reflicta n'elles o leitor, que conhecer os nossos livros historicos. Que julgue se algum d'estes lhe faz suspeitar ao menos o que por aquelles antever? de golpe--um modo d'existir n'essas eras remotas alheio inteiramente das formas da sociedade presente.

I--<>

<

Quem vomita a hostia, e esta ? comida por algum c?o, fa?a penitencia um anno.

<<......? accommettida a egreja do apostolo com repetidos assaltos: as pedras, as settas, os dardos, voam por cima do altar...... Estes homens perdidissimos deitam fogo ? egreja de Santiago, e incendeam-na toda, porque uma grande parte d'ella era coberta de ramos de tamargueira e de taboas.................>>

<>

<<...... Clamavam de f?ra: <>. Ouvido o que, e crescendo o incendio, a rainha constrangida pelo bispo, e recebendo d'elles palavra de seguro, saiu da torre. As turbas, tanto que a v?em sair, accommettem-na, agarram-na e levam-na a rastos para um loda?al; arrebatam-na como lobos, e rasgam-lhe os vestidos: fica nua dos peitos para baixo, e assim jaz por muito tempo descomposta diante de todos. Muitos quizeram apedreja-la, e at? uma velha lhe deu com uma pedra na cara.>>

Qual foi o resultado d'estas gentilezas de canibaes? A rainha, escapando da cidade como p?de, d'ahi a pouco:

<<.......consentiu em fazer um pacto de reconcilia??o com os compostellanos.>>

Fazendo queixas de seu marido, o rei d'Arag?o, a mesma D. Urraca dizia diante dos fidalgos da Galliza:

<<.....n?o s?mente me deshonrou com palavras affrontosas, mas tambem ? de sentir para toda a nobreza que me enxovalhasse as faces com as suas m?os immundas, e me d?sse pontap?s.>>

<>

Louvando o procedimento exemplar e excepcional de S. Giraldo, diz o seu discipulo e biographo:

<>

O arcebispo havia excommungado por incestuoso certo cavalleiro: <>

<>

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