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Read Ebook: At War with Pontiac; Or The Totem of the Bear: A Tale of Redcoat and Redskin by Munroe Kirk Finnemore Joseph Illustrator
Font size: Background color: Text color: Add to tbrJar First Page Next PageEbook has 1470 lines and 75062 words, and 30 pagesTranslators: Serge Persky Augusto de Lacerda A M?E Romance traduzido do manuscripto por S. PERSKY VERS?O PORTUGUEZA DE AUGUSTO DE LACERDA ANTIGA CASA BERTRAND Jos? Bastos & C.? PREF?CIO Gra?as aos escriptores que se teem succedido de Tourguenev a Le?o Tolstoi, o revoltado sahido da classe intellectualmente cultivada ? mais ou menos conhecido. Por que motivo n?o havia ainda um retrato completo do seu irm?o oriundo das obscuras camadas do povo? Principalmente porque os revolucionarios d'esta categoria s?o de recente data. Prepararam-se durante muito tempo nas mysteriosas profundezas das massas, recrutando-se em silencio, multiplicando-se pouco a pouco, at? ao dia em que, na sequencia dos acontecimentos de que a Russia acaba de ser o theatro, os viram surgir de chofre por toda a parte, tanto nas aldeias as mais reconditas da provincia, como nas grandes cidades. O povo desperta do seu somno secular, como de sobresalto, e este despertar abre uma era nova na historia do movimento da liberta??o russa. Entre os intellectuaes e os illettrados, at? hoje distanciados uns dos outros, forma-se um la?o solido, e um mesmo ideal inflamma o exercito dos que marcham ? conquista da liberdade. Descrever esta nova fase da revolu??o russa, evocar os heroes obscuros que se votaram ? grande tarefa da emancipa??o, analisar nas suas manifesta??es as mais variadas, e at? as mais inesperadas, esta resurrei??o da consciencia popular,--eis o que Maximo Gorki se propoz nas paginas que ides l?r. Tarefa ardua como poucas, mas de molde a tentar a alma ardente do auctor. Raras vezes Gorki attingiu tal acuidade de observa??o, uma variedade mais completa no descriptivo, uma t?o perfeita certeza d'analyse psichologica. Mais do que nunca, foi o homem identificado com a sua obra. Filho do povo, ascendendo das mais sordidas camadas sociaes, revolucionario unicamente dedicado ao seu puro ideal de justi?a Gorki tinha, mais do que outrem, os requisitos para escrever esta pagina tragica da historia contemporanea. No personagem t?o profundamente humano da m?e, Gorki mostra como uma mulher cheia de do?ura e de timidez, espancada pelo pae, pelo marido, esmagada impiedosamente pela sorte, immersa na ignorancia e no desbragamento, vae adquirindo pouco a pouco a consciencia da sua misera situa??o, se alevanta sob a influencia do seu filho, at? tornar-se como elle revolucionaria enthusiastica, sacrificando por fim as suas mais queridas affei??es, a propria vida mesmo, ? causa do povo. Em torno da m?e e do filho--os dois heroes principaes--agita-se um amontoado de outros personagens. D'uma parte, os amigos: um russo-menor--alma d'abnega??o e de commovente simplicidade,--raparigas sacrificando felicidade e riqueza para soffrerem a pris?o e as prova??es de toda a especie; operarios robustos e safados reclamando, com o direito ? vida, algumas liberdades; camponezes que, depois de seculos de cega submiss?o, se recusam finalmente a considerar os representantes das auctoridades como enviados do c?o. D'outra parte, os inimigos: officiaes de policia, guardas e espi?es, instrumentos doceis do poder. Toda esta gente, t?o estranha e t?o viva, estas luctas, estes julgamentos, estes martyrios, episodios d'uma guerra cruel e sem clemencia movida contra os apostolos do ideal novo, tudo isto ? a realidade, a realidade de hontem, de hoje, de ?manh?, tudo isto existe e existir?, emquanto na Russia durar a lucta libertadora. De muitas paginas d'este livro emana uma emmo??o profunda. No decurso de uma conversa com os seus companheiros, Andr?, o russo-menor, exclama: --Que importam os meus soffrimentos, as minhas desgra?as! Quando penso em que um dia a patria ser? livre, o meu cora??o dilata-se de jubilo... tenho vontade de chorar, t?o feliz me sinto! E quando Pavel diz, falando de um seu amigo desgra?ado mas sempre bem disposto d'espirito: --Sabes? aquelles que mais riem s?o aquelles cujo cora??o soffre incessantemente. Um companheiro responde: --Qual historia! Se assim f?sse, toda a Russia morreria de riso! Carmen Sylva alludia provavelmente ao dom que Gorki possue de fascinar o leitor com o poder das scenas que descreve. Taes s?o, n'este romance, a morte do revolucionario I?gor, a pris?o do camponez Rybine, a audiencia do tribunal a que comparecem Pavel e os seus amigos, a scena final em que as m?os dos guardas espancam a pobre m?e. Quantas passagens poderiamos citar ainda! Por exemplo, aquella em que Sophia toca uma symphonia de Grieg. O auctor n?o diz o nome d'aquelle trecho, mas qualquer musico o reconhecer? immediatamente pela rapida e flagrante descrip??o que d'elle faz Gorki. Ao mesmo tempo, as auctoridades entregavam aos tribunaes Gorki e o seu editor, sob a accusa??o de < Ha trez annos somente, Gorki foi encarcerado na fortaleza de S. Pedro e S. Paulo, por motivos analogos. A opini?o publica sentiu-se abalada em todo o mundo: de todos os paizes civilisados affluiram peti??es colossaes, reclamando a liberta??o do mestre. Gorki foi posto em liberdade. A pris?o estar? esperando novamente um dos melhores filhos da Russia? Par?s, novembro, 1907. S. PERSKY A M?e PRIMEIRA PARTE Todos os dias, na atmosphera esfuma?ada e grave do bairro operario, o apito da fabrica lan?ava aos ares o seu grito estridulo. Ent?o, creaturas toscas, com os musculos ainda fatigados, sahiam rapidamente das pequenas casas pardacentas e corriam como baratas assustadas. Na fria meia-luz, iam pela rua estreita em direc??o aos altos muros da fabrica que os esperava implacavel e cujos inumeros olhos quadrados, amarellos e viscosos illuminavam a cal?ada lamacenta. A lama estalava sob os seus p?s. Vozes estremunhadas resoavam com roucas exclama??es; pragas cortavam o ar; e uma onda de ruidos vagos acolhia os operarios: a pesada traquinada das maquinas, o regougar do vapor. Sombrias e mal encaradas como sentinellas, as altas chamin?s negras prefilavam-se acima do bairro, semelhantes a grossos bast?es. ? tarde, quando o sol ia no poente, os seus raios vermelhos illuminavam as vidra?as das casarias, a officina vomitava das suas entranhas de pedra todas as escorias humanas, e os operarios enegrecidos pelo fumo, espalhavam-se novamente pelas ruas, deixando atraz de si exhala??es lentas da gordura das maquinas; os seus dentes esfaimados reluziam. Ent?o havia na sua voz anima??o e at? alegria: os trabalhos for?ados tinham concluido por algumas horas; em casa aguardava-os a refei??o e o descan?o. A fabrica absorvia o dia, as maquinas sugavam nos musculos dos homens todas as for?as de que ellas precisavam. O dia f?ra riscado do computo da vida, sem deixar vestigios; o homem tinha dado mais um passo para o tumulo, sem d'isso se aperceber; mas podia entregar-se ao goso do descan?o, aos prazeres da sordida taverna, e estava satisfeito. Nos dias santificados, dormia-se at? quasi ?s dez horas da manh?; depois a gente s?ria e casada vestia o seu melhor fato e ia ? missa, censurando aos novos a sua indifferen?a em materia religiosa. Ao regressarem da egreja, comiam tortas de massa, e deitavam-se de novo at? ? tarde. A fadiga accumulada durante longos annos tirava o appetite; para poderem comer, era preciso beberem muito, excitarem o estomago pregui?oso com a ardencia do alcool. Pela tarde, passeavam indolentemente pelas ruas; os que possuiam capas de borracha punham-nas, ainda que o tempo estivesse secco; os que tinham um guarda-chuva, com elle sahiam, ainda que fizesse sol. N?o ? dado a toda a gente possuir um impermeavel ou um guarda-chuva, mas cada qual ambiciona superiorisar-se ao seu visinho, seja de que maneira f?r. Nas rela??es dos operarios entre si, dominava este mesmo sentimento d'animosidade encubada; inveterara-se n'elles, tanto como a fadiga dos musculos. Estes seres nasciam com a doen?a da alma, heran?a de seus paes; e como uma sombra negra acompanhava-os at? ao tumulo, impellindo-os ? realisa??o de actos repellentes pela sua inutil crueldade. Nos dias santificados, os novos regressavam tarde a casa, com os fatos esfarrapados, cobertos de lama e de poeira; com as caras esmurradas, gabavam-se dos murros que tinham dado nos companheiros; as injurias soffridas encolerisavam-nos ou faziam-nos chorar; eram lastimaveis na sua embriaguez, desgra?ados e repugnantes. Por vezes, os paes levavam para casa os filhos que haviam encontrado a cahir de b?bedos na rua ou na taverna; as injurias e os murros choviam nos rapazes embrutecidos ou excitados pela aguardente; depois mettiam-nos na cama com tal ou qual precau??o, e pela manh? accordavam-nos, apenas o silvo do apito da fabrica cortava os ares. Embora repreendessem os rapazes e lhes batessem, a sua embriaguez e as suas contendas eram coisas naturaes para a familia; quando os paes eram ainda novos tinham bebido tambem e entrado em desordens, sendo egualmente castigados pelos paes e pelas m?es. A vida decorria sempre assim; continuava a decorrer, n?o se sabia at? onde, regular e lenta como um rio lodoso. Appareciam por vezes no bairro creaturas estranhas, que a principio despertavam a atten??o, simplesmente porque eram desconhecidas; mas dentro em pouco habituavam-se a ellas, e acabavam por passar despercebidas. Das suas conversas concluia-se que a vida do operario era em toda a parte a mesma coisa. E desde que era assim, para que falar sobre tal assumpto? Havia porem alguns que diziam coisas novas para o bairro. N?o discutiam com elles, n?o prestavam mais do que uma atten??o incredula ?s suas palavras extravagantes, que excitavam n'uns uma irrita??o cega, n'outros uma especie d'inquieta??o, ao passo que outros ainda sentiam-se perturbados por uma vaga esperan?a, e desatavam a beber ainda mais que de costume para afastarem tal impress?o. Se o recemchegado apresentava algum tra?o caracteristico extraordinario, os moradores do bairro punham-no em rigorosa quarentena, tratavam-no com instinctiva repuls?o, como se receassem vel-o trazer para a existencia de todos o que quer que fosse perturbador do rame-rame penoso, mas tranquillo. Acostumados a serem opprimidos pela vida, aquella gente considerava todas as transforma??es possiveis como proprias somente a tornarem o seu jugo ainda mais pezado. Resignados, faziam o vacuo em torno d'aquelles que pronunciavam palavras estranhas. Ent?o estes desappareciam n?o se sabe para onde; se ficavam na fabrica, viviam ? parte, n?o conseguindo confundir-se na multid?o uniforme dos operarios. Depois de ter vivido assim uns cincoenta annos, o homem morria. D'esta maneira vivia o serralheiro Mikha?l Vlassof, homem sombrio, de pequeninos olhos desconfiados e maus, protegidos por espessas sobrancelhas. Era o melhor serralheiro da fabrica e o hercules do bairro. Tinha porem modos grosseiros para o chefe; por isto ganhava pouco; todos os domingos sovava algum; todos o temiam e ninguem o estimava. Por varias vezes, haviam tentado dar-lhe uma tareia, mas nunca conseguiram. Quando Vlassof previa uma agress?o, agarrava n'uma pedra, n'uma taboa, n'um bocado de ferro, e, solidamente firme nas pernas abertas, esperava em silencio o inimigo. Com a cara coberta, desde as orelhas at? ao pesco?o d'uma barba negra, as suas m?os pelludas despertavam um terror geral. Principalmente tinham medo dos seus olhos penetrantes que atravessavam o proximo como pontas d'a?o; quando lhe encontravam o olhar, sentiam-se em presen?a d'uma for?a selvagem, inaccessivel ao terror, prestes ao ataque impiedoso. --Eh l?! V? d'aqui, canalha! dizia elle roucamente. Na espessa tez do seu rosto, os dentes amarellos brilhavam ferozes. Os seus adversarios recuavam, invectivando-o. --Canalha! gritava elle ainda, e os seus olhos disparavam sarcasmos acerados como sovelas. Depois, erguendo a cabe?a com ares provocadores, seguia os seus inimigos, berrando de quando em quando: --Ent?o! quem quer morrer? Ninguem queria. Add to tbrJar First Page Next Page |
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