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Read Ebook: Verdades amargas estudo politico dedicado às classes que pensam que possuem e que trabalham by Nunes Cl Udio Jos
Font size: Background color: Text color: Add to tbrJar First Page Next Page Prev PageEbook has 755 lines and 25664 words, and 16 pagesDo paiz politico, n'uma palavra. N'este, for?a ? confessal-o, as excep??es invadem a regra geral. As convic??es andam alli geralmente ? merc? dos ventos do ceu. Um enxame de incredulos, que borboleteiam de despeito em despeito ou de interesse em interesse, pousando hoje aqui e al?m ?manh?, suga o mel do partido em que eventualmente pousou, flor tanto mais procurada quanto mais se espaneja ao sol do poder. Os proprios programmas partidarios batem repetidas ter??s. Ardem na febre ou gelam no frio, segundo s?o difficuldades de governo ou facilidades de opposi??o. No meio d'esta balburdia quasi toda a gente ? correligionaria de quasi toda a gente. Parece que o pobre do or?amento ? floresta aonde se ca?a a fur?o e a rede, a tiro e a pau. N?o ha mezes defezos, nem habilita??o policial. Entra quem p?de. Fere, mata e apanha quem teve melhor olho ou mais vigoroso lebreu. Gasta-se metade do anno a demolir os adversarios e a outra metade a forjar com elles alguma salvadora fus?o. E como n'esta aben?oada terra n?o se discutem principios mas homens, o imbecil, o devasso, o infame da vespera ser? no dia seguinte honrado collega. A abnega??o democratica ? apregoada de boca em boca mas, para honra e gloria d'ella, um chuveiro de titulos e condecora??es alaga por vezes em ridiculo a prosapia do agraciado e a referenda do bemfeitor. Mais ainda. Trope?a um conde na plebe, levanta-se logo marquez. Se vem a republica, ? certo o ducado. A lei anda em interinidade. Reformas de reformas reformam o que foi reformado. Quem se descuidar um mez de estar em dia com a legisla??o arrisca-se a dar comsigo n'algum labyrintho de referencias ou n'algum fojo de multas. Leis n?o faltam. Verdade ? que, em compensa??o, ficam muitas em letra morta. O respeito ao principio de auctoridade, sem o qual nem a propria liberdade florece e fructifica, vai-se pouco a pouco obliterando no espirito das massas. S? em tempo de elei??es e a tres metros da urna ? que, por uma fatal invers?o, a indisciplinada turbulencia do campanario se dobra aos conselhos de quem alli representa aquelle desprezado principio. F?ra d'essa quadra excepcional, queimam-se cartorios publicos; espancam-se empregados; negam-se esclarecimentos e toca-se a rebate contra os agentes da lei. A intriga e a calumnia s?o moeda corrente. Emquanto a mentiras j? n?o incommodam quem as ouve e as diz. O caso ? que se minta a proposito e bem. Quest?o de habilidade. As varias f?rmas da utilidade invadem todos os corpos e todas as almas. Subir e medrar, gozar e vencer s?o os pontos cardeaes do mappa das cren?as. Quem negar? que o escandalo seja uma excellente recommenda??o? Exemplifique-se: Anda por ventura a atten??o popular em curioso convivio com os mestres da escripta; com a musa da forte e s? litteratura; com Garrett, Herculano, Castilho, Rebello e Mendes Leal? Passa a vista pelos trabalhos serios da imprensa? Occupa-se, porventura, em ler as discuss?es parlamentares? N?o, n?o. No seu paladar pervertido s?mente causa o estimulo da curiosidade algum pamphleto immundo, em que se insulte a decencia; se morda na lingua; se cuspa nas institui??es e se esbofeteie a verdade. E quanto mais ? cobarde a insinua??o; quanto ? mais vil a denuncia; quanto mais salgada ? a infamia da phrase, tanto mais as saboreia a avidez popular e se deleita com ellas o commum dos leitores. Mas basta de generalidades e venha um facto concreto. Triumpha uma sedi??o militar. Nos sal?es, outr'ora desertos, do conspirador, acotovella-se, horas depois, a turba cerrada dos cortez?os da victoria. N?o admira. Ha musica no c?ro e bodo no pateo. Rebenta um partido do cofre das gra?as. Formigam as adhes?es. Enxameam os enthusiastas. N?o chegam os clarins para os arautos da gloria. ? excep??o da parcialidade vencida, todas as outras se derretem em nega?as ao heroe do momento. De todos os cantos estalla um catharro provocador. E um sargento de ca?adores fech?ra as portas do parlamento! Vem uma e diz: < Mas uma voz grita do lado: < Clamam de baixo: < E assim foi. E haver? criterio moral n'um paiz aonde se corteja o poder com t?o notavel impudor? E depois? Depois veio a queda. Um golpe de estado desfez o que fizera o motim. Cura perigosa de uma perigosa doen?a. O paiz n?o ach?ra em si for?a sufficiente para debellal-a e entregou ? cor?a a manipula??o do remedio. Triste confiss?o de impotencia! Triste symptoma constitucional! Caiu o marechal. Era execrada a dictadura. Moveu-se-lhe guerra em nome da nossa autonomia. Contra os actos d'ella subiram as queixas dos partidos at? aos degr?os do throno, que as ouviu e attendeu. Assim era necessario para que quem morrera ministro resuscitasse embaixador; isto ?, n'um cargo de absoluta confian?a politica ao servi?o de uma das parcialidades que maior guerra lhe mov?ra! Um recebe e parte. Outro n?o parte e recebe. O paiz olha e paga. Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page |
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