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Munafa ebook

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Read Ebook: Um meeting na parvonia: poemeto escripto num canto by Anonymous

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Ebook has 217 lines and 31052 words, and 5 pages

UM MEETING NA PARVONIA

UM MEETING NA PARVONIA

POEMETO ESCRIPTO N'UM CANTO

LISBOA TYP.--LARGO DOS INGLEZINHOS, 27, 1.^o 1881

Oh! Musa sacripanta dos Vardascas, Onzeneira, bulhenta, peralvilha, Bachante de bordeis, deusa de tascas, De Momo e da Discordia a v?sga filha, Empresta-me o teu estro, p?e-me em lascas, Regateira infernal, vil farroupilha, A mente, e, qual fusil na pederneira, Accende-m'a com chamma de fogueira.

Preciso de fatal inspira??o, N?o bebida na fonte de Hypocrene, Como o enfermo que em grave indigest?o Carece vomitar, ou tomar s?ne. Acode-me com o estro de febr?o, Que delire em linguagem torpe, infrene. Oh! Musa, qual Med?a ardendo em furias, Incita-me ?s poeticas luxurias.

D?-me influxo mordaz, horripilante, Como outr'ora abrasou um Aretino, Esse fogo infernal, que teve o Dante, Ou a gra?a sequer de Tolentino; Mas tu, oh! Musa reles, e far?ante, N?o me entruges o plectro de mofino; Se me negas o dar-me engenho e arte, Nem mais um decilitro hei de pagar-te.

E seja o canto meu feroz, medonho, Que similhe ao uivar do voraz lobo, Ao crocitar dos corvos; enfadonho Como o sorrir alvar de informe bobo, Que a tratar o assumpto, que proponho, Requer-se petulancia, e tal arroubo, Que o leitor, deliquido n'um desmaio, Me pare?a assombrado pelo raio:

J? burbulham as arvores, e as flores Engrinaldam os prados de Flora; As aves gorgeando os seus amores Alternam o chiar da triste nora. Correm montes e valles ca?adores Co'as matilhas de c?es, mas em m? hora, Que as pintadas perdizes e coelhos Levam ventos nas azas, nos artelhos.

B?a gente de artistas, operarios, Crestada pelas lavas do trabalho, Vivendo das migalhas dos salarios Que do fisco escaparam; rebotalho Condemnado a subir asp'ros calvarios, Que busca naipe ser no vil baralho, D'onde querem tirar valetes, reis, E trumphar co'o direito s? das leis.

V?o anchos, v?o alegres na esp'ran?a D'um futuro feliz, que os seus tribunos Lhes promettem de ha muito. Essa allian?a Da justi?a e poder, fins opportunos Que ? for?a popular lhes affian?a O livral-os das unhas dos gatunos, Que roubando a na??o se fazem nobres, Vampiros a chupar o sangue aos pobres.

? grande a multid?o ali trazida: Alguns por curiosos se conduzem, A outros a cobi?a mais convida, Que muitos com promessas se reduzem; E quantos com a mente prevenida De utopias, que o animo seduzem, Com a grata illus?o de vir a ser Povo e rei de si mesmo no poder.

Suspenso v?-se ? porta da taberna Um ramo de loureiro; mais em baixo Por symbolo pintaram-lhe uma perna E um letreiro:--<>; E de copo na m?o v? se um borracho Apontando p'ra a quinta, onde em devesas L? sob os parreiraes est?o as mezas.

A gente ? porta embica n'um mont?o, Inquieta formigando n'um bulicio, Como em dia de roda ao Campe?o Concorre por esp'rar o beneficio D'uma sorte feliz, d'um alegr?o. Assim acode ali, e no comicio Apanha, triste sorte, muita chuva, Muita parra, coitada, e pouca uva.

Escolhem d'entre a turda in-continente Um quidam consid'rado dos mais doutos, Que occupando o logar de presidente Ao sentar-se salvou com tres arrotos; E com voz mal toada, intermittente, Vae fallando, e cuspindo perdigotos; Assim impertigado estende a m?o: <>

E logo sobre um banco alevantado Um homem vocifera, gesticula, Os ministros ataca, e de zangado, Em verrina, que mais descamba em chula, Invectiva o imposto, e o tratado Que aprov?ra das c?rtes a matula. --Embora, oh! patria minha, luctes, arques; N?o consintas vender Louren?o Marques!

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E logo se empoleira outro orador Compondo o rosto alvar; e ancho de si Exclama com prosapia:--<>

<> Mas n'isto berra alguem:--<>

<> --<> E o sucio, por temer as consequencias, Escondeu-se nas mudas reticencias.

--<> Disse um tal agarrando um pedregulho. --F?ra, f?ra!--clamaram l? do centro. Crescera a vozearia e o barulho: --<>

Tal quando ronca o mar em tempestade, Revolvido por grande furac?o, E em montanhas de espuma corre, invade Ainda a mais alt'rosa embarca??o; Ou quando no aduar em feridade De assalto abrindo as garras o le?o Percorre a empolgar seu inimigo, Assim o orador se viu em p'rigo.

Mas n'essa confus?o o paroleiro Se esgueirava, fugindo com prudencia; A mesa assalta um l?pido barbeiro, Que s?be desde logo ? presidencia. Muitos gritam:--<> E de vez foi crescendo a gritaria.

--<> Todos pedem, mas logo o presidente Tocava a campainha, que o tac?o Lhe impede ser ouvido d'essa gente. --<

E caem os partidos, sempre os mesmos Do governo os mand?es, a mesma escola; O estado a soffrer graves tenesmos, S? nos resta o pedirmos inda esmola; A fazenda consome-se em torresmos, E v?mos n'um rec?o-caranguejola; Somos ricos e grandes de comedia. A triste bancarota alguem impede-a?

O supremo poder nas m?os d'um homem, Que p?de ser um tolo, ou um tyranno! A historia dos reis, que os tempos somem, Consultae, e tereis o desengano. Providencias energicas se tomem Contra o nosso porvir, e o grave damno Que os despostas causaram a seus povos; Meus principios s?o justos, e s?o novos.

? um rei liberal, como ? a pella Na m?o d'um jogador; do ministerio Espera para a rubr?ca a chancella E faz o que lhe dizem, sem criterio Se a coisa ? de momento ou bagatella; Pois se quer governar, sem refrigerio Dos partidos depostos, soffre assomos, Qual juiz de arraial co'os seus mordomos;

Sempre ?s cristas, e sempre engalfinhados, Cubi?ando os poleiros das na??es, De ministros, de pares, deputados, De camaras, de empregos; ambi??es Porque morrem de amor e de cuidados, N?o lh'importam... As venturas do povo... em palavrorios, Sobem, descem com vivas, foguetorios.

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XXX

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Silencio... N?o tem ricos, n?o tem nobres; Permitte a cada um o que ? preciso. Portugal, ? mister, que tu recobres Teus foros sociaes, sem prejuizo Dos que nascem... nem haja humildes, pobres; Sejam nossos braz?es: honra, juizo; A terra fique livre, os bens communs, E p'ra todos acabem os jejuns.

Bem nos basta aturar o rei do dia, Que d'inverno a soslaio nos visita, E de ver?o nos abrasa em calmaria. Todo o rei ? verdugo e parasita, Que as entranhas do povo, qual harpia, Molesta d'extors?es, opprime, irrita; Por este decilitro vos protesto Que o governo do rei ? o mais funesto.

V?de desgra?a tanta... esses pedintes, Co'os filhinhos ao collo as tristes m?es, E n?s d'essas lamurias sendo ouvintes Sem ter para lhes dar soccorro e p?es; Da miseria chegaram aos requintes Que os ossos v?o roendo como c?es E os ministros reunem na Ajuda A pedir ? na??o que lhes acuda.

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Portugal, que entre todas as na??es Se distingue fiel ? dynastia! Que nobre de proezas, galard?es, No mundo inteiro houvera primasia! Ha de hoje off'recer os seus braz?es Aos sonhos d'esta v? democracia, Que elege e acclama por soberano Este, aquelle, aquell'outro, um tal cicrano?!>>

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XLI

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XLII

XLIV

XLV

A communa... oh! que grande regaleza! Tudo egual, e ninguem soffrendo fome! Descongela-se a neve da pobreza, O rico diz ao pobre:--Pegue, tome!-- Repartem entre si toda a riqueza, O trabalho a ninguem rala e consome, Cada um faz e diz o que quizer, E troca de marido e de mulher!

XLVI

J? roucos de gritar com vozes graves, A republica acclamam grandes vivas; Nos bosques se escondiam meigas aves, Dos prados, pela bulha, fugitivas, E as fontes seus murmurios t?o suaves Suspendem entretanto por esquivas; S? ao longe, no auge do sussurro, Co?xa a triste r?, orneja o burro.

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