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Munafa ebook

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Read Ebook: Portugal e Marrocos perante a historia e a politica europea by Testa Carlos

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Ebook has 107 lines and 11982 words, and 3 pages

Mas, o ultimo passo para se chegar ? sua completa extinc??o, est? nas leis mais modernas, que abolindo a condi??o de escravo e o estado servil, consignaram o que o direito natural prescreve, isto ?, a liberdade do homem, sem attender a c?r, condi??o ou logar. Foi este decerto o golpe final n'aquella aberra??o social e depravada pratica, a escravatura, que foi um dos grandes obstaculos ? civilisa??o da Africa.

Mas tambem n'esta parte justi?a deve ser feita a Portugal, que apezar da immerecida reputa??o de ter sido um dos maiores fautores d'aquelle trafico reprovado, foi todavia o que menos tardou em acceitar todas as medidas e pactos que ? restric??o do mesmo se propunham.

Menos de quatro seculos encerram um periodo, cujo come?o se assignala pelo descobrimento da America e determina??o da orla maritima at? aos limites austraes da Africa, mas cujo termo nos deixa v?r em nossos dias as vastas regi?es centraes d'esta velha parte do Mundo, em condi??es que pouco se avantajam ?quella, em que as deixaram os que primeiro lhes demarcaram os contornos, emquanto que na America vemos um novo continente explorado e colonisado em todo o littoral e interior da sua vasta extens?o nos dois hemispherios.

As transi??es pelas quaes passou esta grande parte do Mundo, segundo a tendencia e indole das nacionalidades que a si vincularam sua explora??o e posse, por longo tempo a amoldaram ?s fei??es que taes elementos e systema da colonisa??o lhe imprimiram.

Mas as grandes luctas de predominio e de interesses em que a Europa andou empenhada desde o ultimo quartel do seculo passado e durante o primeiro do actual, dando logar a vicissitudes e modifica??es na politica e na economia de varias potencias, foram causas, que prepararam a emancipa??o de todos aquelles dominios.

Na America septentrional, a forma??o de um grande Estado maritimo e commercial, actuou nas rela??es internacionaes, desde que deu for?a aos principios favoraveis ? bandeira cobrir mercadoria, e a garantir os direitos dos neutros.

A independencia politica successivamente proclamada e firmada de norte a sul das Americas, constituindo novos e robustos Estados com todos os elementos de uma civilisa??o adiantada, e com todas as vantagens de um solo fertilissimo em productos de ampla procura, teve em resultado acabar com todas as restric??es e exclus?es, para dar logar a um commercio extensissimo, sempre crescendo em importancia e actividade, com prodigioso desenvolvimento da navega??o, e contribuindo n?o s? para o augmento das rela??es com as antigas metropoles, mas tambem com os grandes mercados e centros de consumo, tornando cada vez mais firmes e garantidos, pela solidariedade de interesses resultantes, os principios de direito maritimo, e de economia social, em vantagem de todos os povos.

Assim foi que o trafico do Brazil d'antes restringido todo a convergir em Lisboa, logo depois da independencia d'aquelle Estado cedeu o logar ? concorrencia, pela abertura dos portos ?s na??es consumidoras de seus productos de t?o geral procura e consumo, em vantagem n?o s? propria, mas da antiga metropole.

E ainda sobre este ponto de vista tem Portugal um grande titulo ao reconhecimento geral, em ter lan?ado ? terra a semente da civilisa??o, que pelo adiante tanto havia de medrar e de fructificar n'aquella extensa regi?o, constituindo um grande e florescente Imperio, que pela identidade de ra?a, de lingua e por suas riquezas naturaes e livre explora??o de seu vasto commercio, constitue n?o s? a obra mais valiosa e perduravel da colonisa??o portugueza, mas tambem outro valioso titulo de gloria para a na??o que lhe deu origem.

O quadro que fica exposto, como resultado da aboli??o do systema restrictivo, abrange em seus tra?os o que se observa percorrendo todos os mares e regi?es da Asia e Oceania at? aos confins do Globo.

Hoje em toda a America, bem como nas costas e portos das Indias, da peninsula Malaia, dos imperios Birman, China e do Jap?o, e at? da Australia e Nova Zelandia, e ainda em volta at? ao Pacifico, se encontram n?o s? emporios commerciaes mas tambem pontos de escala de uma navega??o prodigiosa, entretida por numerosos e esplendidos navios, onde a architectura naval, a sciencia do engenheiro, e a industria do ferro, nos deixam v?r maravilhas da arte, em typos de magnificencia, solidez e seguran?a, estabelecendo pela livre concorrencia e pela rivalidade no servi?o, aquella activa, permanente, e admiravel r?de de communica??es, que o telegrapho auxilia, e que o caminho de ferro ramifica pelos continentes.

Vae-se hoje aos antipodas, e quasi se faz o circumgiro do Globo, com a mesma rapidez, e com maior seguran?a e conforto do que ha apenas meio seculo se ia de um ponto a outro da Europa.

A propria Australia e a Nova Zelandia que ha apenas um seculo eram, aquella povoada de tribus antropofagas, e ?sta ainda desconhecida, partilham hoje dos mesmos resultados, deixando v?r, como em paragens onde ha pouco s? havia a floresta virgem, ou banquetes canibalescos do Gunya ou do Maori selvagem, ao presente se ostentam cidades florescentes, onde a colonisa??o, a indole e o genio da ra?a anglo-saxonia, implantou todos os progressos que a civilisa??o op?ra, e onde todos os estabelecimentos e recursos que o commercio reclama e a industria anima, rivalisam com os que se encontram nas mais opulentas cidades europeas.

Isto que ha um seculo pareceria um sonho phantastico, e ha meio seculo uma utopia de visionarios, ? hoje uma realidade.

Mas, o que d'este quadro se deprehende, ?, que se ha apenas menos de quatro seculos que a geographia viu alargar seus horisontes; se novos hemispherios, novas regi?es, novos mares e archipelagos se revelaram; se o Mundo at? ent?o conhecido dobrava em extens?o; e se hoje o mappa do Globo assim desdobrado nos deixa v?r uma transforma??o cabal no sentido n?o s? geographico mas tambem politico e commercial, ? certo tambem que o inicio de t?o grandiosa obra partiu de Portugal, desde que pondo p? em Africa e abrindo depois o caminho do Oriente, se aventurou a emprezas t?o grandiosas de gloria para si, mas de mais proveito para a humanidade, ? qual preparou e deixou t?o vasto campo para explorar, e para colher os modernos fructos da civilisa??o.

P?de-se pois afoutamente asseverar que Portugal foi o paiz benemerito da humanidade, e que portanto tem jus ao reconhecimento das outras na??es que hoje mais fortes e mais opulentas, n?o tiveram todavia uma parte como elle n'essa grande obra que a historia registra e o Mundo contempla.

Mas a obra e ac??o dos seculos, ao passo que ia dando, como j? se notou, nova face ao Mundo, deixava que parte do antigo permanecesse quasi nas condi??es primitivas, ou quasi que esquecida e desattendida pelos obreiros da civilisa??o e do progresso.

As margens d'aquelle mar interno, o littoral d'aquella antiga Africa que o Mediterraneo banha, passaram quasi que incolumes na grande transforma??o operada desde uma dezena de seculos. E todavia foi ahi, n'essa zona do globo terraqueo, que mais se disputaram os pleitos em que a humanidade andou por tanto tempo empenhada.

Sem remontar ?s guerras Punicas, quando Carthago e Roma disputavam a supremacia do mar e o dominio da Sicilia; quando a posse de Sagunto contestada, levava Annibal ? Hespanha e d'alli a passar os Alpes e a bater ?s portas de Roma; ou quando Scipi?o passava ? Numidia e ia destruir os muros de Carthago; sem ir buscar exemplos d'essas insistentes luctas no norte da Africa ?s expedi??es de Belisario ou ?s sangrentas invas?es dos mahometanos sobre as Hespanhas, s? detidos quando achavam nas Gallias a barreira que lhes oppunham as hostes de Carlos Martel; sem ir t?o longe emfim, basta partirmos de epocas mais recentes, para ver como aquellas antigas regi?es ao Septentri?o do Saharah, constituiram o objecto e o alvo de renhidas luctas, e de aturados esfor?os, em que se acharam empenhadas as na??es do velho continente.

Figur?ra no passado ainda mais notavelmente na expugna??o de Ceuta emprehendida e effectuada por Portugal na cavalheirosa epoca de D. Jo?o I e de seus heroicos filhos. Foi este o ponto de partida, o signal de execu??o, o toque de avan?ar, que teve por complemento aquella grandiosa obra que dotou o Mundo com o dobro da sua superficie conhecida.

Sagres, d'onde sahiram as primeiras expedi??es de navegadores, e Ceuta, onde provaram seu exfor?o os denodados guerreiros, que iam com suas lan?as abrir as portas do Mundo desconhecido, s?o dois pontos ligados por uma id?a. Essa id?a ? a base onde assenta aquella prodigiosa epop?a que j? foi uma realidade; id?a que j? teve um periodo de desempenho, e que soffreu interrup??o. Essa id?a ? tambem a que p?de alimentar nas suas variadas concep??es e consequencias, as aspira??es que constituem o bello ideal, com que o futuro nos poderia sorrir!

E porqu??

Em quanto que pelas regi?es transatlanticas ou sul equatoriaes, onde ha quasi quatro seculos tudo era ignoto, j? o progresso da humanidade implantou suas leis e suas praticas, ainda ?s portas da velha Europa em frente das na??es civilisadas do antigo continente, adjacente a esse mar que banha seus littoraes n'aquella orla septemptrional da Africa, contemplavam-se ha pouco, e ainda hoje em parte se contemplam Estados, cuja condi??o politica e social, cujas leis e cujo fanatismo fatalista, formam a antithese mais completa, entre a civilisa??o e a barbarie.

Ao ultimo rei de Fran?a do ramo directo de Bourbon, estava reservada a empreza de come?ar essa liquida??o de contas. O Argel submettido ? Fran?a por conquista, foi o primeiro passo na realisa??o da obra de limpar o Mediterraneo d'aquelles fautores do latrocinio barbaresco.

Tunis, a herdeira geographica da antiga Carthago, est? hoje com apparencia de seguir a mesma sorte que Argel, ou de a imitar nas consequencias.

Tripoli ser? depois, ou o pomo de discordia entre as na??es do Mediterraneo que se disputam alli a supremacia de sua influencia; ou ser? quinh?o que venha servir de compensa??o para a Italia, j? que a Fran?a se antecipou sobre Tunis.

O que se passa n'aquelle mar, em tudo leva ? apparencia de que as na??es maritimas cujas aguas por elle s?o banhadas, veem o seu futuro prestigio dependente de alli terem dominio ou influencia, como nos tempos de Roma e Carthago. Mas tambem se deixa perceber que a influencia da ac??o politica Europea, de onde quer que ella venha, ou quaesquer que sejam os interesses que alli a chamem, ? o meio conducente a modificar a fei??o moral e a estagna??o material de que tem sido causa o impassivel fanatismo mahometano.

Como ultimo dos Estados em que o dominio da ra?a agarena ainda se perpet?a, resta Marrocos, esse imperio da Mauritania Tingitana, que deu aos Sarracenos ingresso na Peninsula, e que mais tarde foi d'elles o refugio, quando ao baquear do califado de Cordova e do reino de Granada elles foram de todo expulsos da Europa para as plagas d'al?m mar; e onde ainda assim por mais de uma vez Portugal conseguiu p?r p?, e dar sequencia ? conquista sobre seu solo. E conquista era esta, para a qual o mar n?o era o ultimo limite, mas s? f?ra motivo para lhe retardar o proseguimento.

Em vista das li??es da historia, e das evolu??es da politica, ninguem p?de hoje duvidar, que um imperio nas condi??es de Marrocos, esteja destinado a ter contados os dias que h?o de conduzil-o a um desmoronamento. Alli r?ge uma administra??o a mais despotica e brutal; as leis s?o a vontade do Sult?o; as finan?as s?o as extors?es tributarias e o absurdo fiscal; a justi?a ? o bast?o dos alguazis, movido ao capricho dos pach?s e dos ca?ds; o estado moral ? a ignorancia a mais rude, de m?o dada com o fanatismo mais intransigente. Em toda a extens?o do seu fecundo s?lo, n?o existe aberta nem uma unica estrada rodada, nem uma p?sta, nem uma obra d'arte. Inutil ? fallar em telegrapho ou locomotiva. Press?es externas e continuas agita??es internas, umas provindas de desfor?os dos extranhos, e outras devidas ? intermittente anarchia, e ?s periodicas correrias das tribus kabylas, alli perpetuam a desordem, a instabilidade dos fracos elementos de vida social, e promovem as f?mes, a miseria e as epidemias.

Da vida ou morte de um sult?o despotico, se faz dependente a existencia ou a dissolu??o de t?o barbaro Estado.

? assim que aquelle Imperio, que olha para a Europa pelo horisonte dos dois mares, Mediterraneo e Atlantico, pelo seu estado politico, social e economico, justifica plenamente as previs?es de que com seu systema de governo vexatorio e repugnante ?s leis da humanidade, elle vive s?mente pela apathia das na??es civilisadas; por?m a gangrena que o devora pouco a pouco, ? t?o alarmante que amea?a exterminal-o.

A Hespanha fronteira, senhora de Melilla e de Ceuta, ainda n?o ha muitos annos fez alli ensaio da sua pujan?a militar, ostentando n'uma guerra a for?a do seu poder, e revelando as vistas da sua politica previdente.

A Fran?a, senhora de Argel, e confinante nas suas fronteiras, interessa-se como tal em manter aquella preponderancia que sempre resulta, quando os aggravos recebidos nos conflictos de m? visinhan?a, s?o liquidados por um processo como em Isly ou Mogador, quando seus canh?es, em terra ou no mar, impozeram aquelle respeito que leva ? submiss?o.

A Allemanha, potencia continental, mas avida e solicita em n?o descurar sua ostenta??o, tambem tornou alli saliente a sua nova vitalidade, correspondendo com uma representa??o diplomatica permanente, ? embaixada que recebeu em sua c?rte.

A Italia, embora com a mira em Tripoli, tambem n?o se descura de dar alli amostra da sua solicitude como na??o do Mediterraneo. E ? assim que todas as potencias europ?as, ou como ciosas do seu prestigio, ou por vigiar seus interesses presentes ou futuros, mant?em suas lega??es permanentes, estabelecidas na cidade maritima de Tanger, que assente graciosa e alvejante nas faldas septentrionaes da cordilheira do Atlas, banhadas pelas aguas do Estreito, parece ser como a guarita onde est?o postadas as ved?tas europ?as, que ? porfia entre si combinam a vigilancia, ou at? certo ponto disputam a tutella sobre aquella regi?o, d'onde ? mourama ainda ? permittido contemplar de longe as costas da Europa, povoadas de espa?o em espa?o pelas torres em ruinas, que recordam as epocas em que o crescente dominava onde hoje se ergue a cruz!

Quem da bahia que d? ingresso ? cidade mourisca, estender um olhar por sobre o alvejante mont?o de casas que pelas encostas v?o apinhadas desde a porta do mar ao alto do castello El-Kasbah, ver? fluctuar em varios pontos, sobre edificios mais salientes, as bandeiras das diferentes na??es que alli mant?em seus representantes, tornando assim Tanger, cidade diante da qual se unem os dois mares, como sendo o latego politico das rela??es diplomaticas entre a Europa e o imperio de Marrocos.

Por entre aquellas divisas das na??es que alli policiam e espreitam os paroxismos sociaes dos ultimos restos da velha Mauritania, tambem l? se descobre a bandeira de Portugal hasteada onde outr'ora abord?mos em tom guerreiro, mas hoje como symbolo de miss?o pacifica mas vigilante de uma na??o, que tendo j? posto de parte os velhos resentimentos, alli se apresenta e concorre, como mantendo um benevolo trato de amisade e reciproca estima.

Onde ha tradi??es historicas de t?o subido valor como as que recordam as proezas do immortal infante D. Henrique e a heroica abnega??o do Santo Infante D. Fernando, aquelle emblema ? como um incentivo para que a na??o que tem t?o glorioso passado, n?o descure quaesquer elementos conducentes a manter alli seu renome a par de outras que menos fizeram pelo passado, mas que mais ambicionam no presente.

Mas a par de tal emblema em terra mauritana, alli tem Portugal, acima de qualquer outro paiz, outros titulos para ser considerado, quaes s?o os que se revelam nas muralhas de tantas pra?as maritimas, em cujos derrocados baluartes ainda hoje se conservam salientes os escudos d'armas portuguezas, como testemunho d'aquelle alto valor e esfor?o que alli se amestrou para depois cumprir os grandes feitos do Oriente. Para al?m de Ceuta e Tanger, ao poente do Spartel e a dois dias das costas de Portugal, l? o est?o assim attestando, Arzilla, Alcacer e Azamor, todas sobre o fronteiro Atlantico, at? Mazag?o t?o desastradamente votada ao abandono em 1763 pelo despotico governo do Marquez de Pombal, quando de preferencia desviava suas vistas para as colonias do Brasil, a troco de t?o erroneo abandono d'aquella ultima reliquia da conquista na Mauritania, e padr?o de que at? alli se dilat?ra o territorio de Portugal.

Os velhos resentimentos e antagonismos extinguiram-se de ha muito, cedendo o logar ?s rela??es pacificas.

J? no seculo passado, reinando D. Jos? I, a embaixada que em 1773 foi enviada a Marrocos assentar pazes, recebeu alli demonstra??es de deferencia, e honrarias, que a outras na??es n?o eram concedidas. Mantidas essas rela??es durante o seguinte reinado de D. Maria I, ainda ellas se perpetuaram regendo el-rei D. Jo?o VI a ponto que, querendo a c?rte de Vienna p?r termo ?s desaven?as que entre ella e o imperio Marroquino se suscitaram, recorreu aquella ao governo Portuguez, como medianeiro para as comp?r amigavelmente.

As rela??es pacificas e o trato commercial entre Portugal e Marrocos nunca mais foram alterados. N?o ser? pois a Portugal que convenha ou perten?a o rompel-as prepotentemente. Mas o que n?o deve esquecer, nem perder-se de vista, ? a id?a, de que quando o destino d'aquelle Estado tiver de obedecer a outras influencias que hajam de promover o seu desmembramento, existe um conjuncto de circumstancias politicas que constituem outras tantas disposi??es aproveitaveis, para que sem ser a causa directa d'essa vers?o, n?o seja indifferente aos seus resultados. Quem j? foi adiante de outros e n?o quizer ficar atraz d'elles, deve pelo menos ir a par.

Quando os presentimentos que ?cerca do destino de Marrocos se v?o fundando n?o s? em supposi??es, mas em probabilidades que se hajam de realisar; quando houvesse de soar a hora da partilha como resultado de uma expropria??o inevitavel por utilidade Europea ou por honra da civilisa??o, ao menos que ella seja effectuada de modo que a equidade n?o tenha a queixar-se da justi?a.

E Portugal sob o ponto de vista historico, geographico e politico, deveria e poderia preparar-se para estar no caso de aspirar ? competencia a que seus titulos possam dar-lhe direito.

A historia o ensina, a geographia o indica, a boa politica o aconselha.

A historia; porque foi Portugal quem alli primeiro poz p? e assentou dominio, como alargamento de territorio, e como um servi?o ent?o prestado ? humanidade pelos resultados que d'ahi advieram. Desde Ceuta at? Mogador, est?o os padr?es que assim attestam.

A geographia o indica, porque as columnas de Hercules, onde o Mediterraneo termina e o Atlantico come?a, marcam e dividem o limite at? onde as na??es fronteiras d'aquem mar, teriam raz?es para disputar preferencia e competencia.

A Inglaterra, que no Mediterraneo tem seus postos de vigilancia, n?o poderia v?r com bons olhos, que a sua preponderancia maritima e continental houvesse de ser contrabalan?ada por uma tal dilata??o de imperio que fizesse qualquer na??o um potentado, e que assim justificasse seus ciumes e suas rivalidades. Mas haveria uma vers?o que as poderia evitar; um desenlace que neutralisaria aquelle desequilibrio; uma partilha que n?o encontraria taes perigos. Essa vers?o seria, a que restituisse a Portugal o que j? f?ra seu por conquista de armas sobre inimigos, mas que n'estas condi??es seria restitui??o pelo pacifico assentimento de amigos, e como justa retribui??o de passados feitos.

Quando entre as especula??es da politica europ?a se torne um ponto assentado e decidido a partilha da preza, n?o p?de ser disputado a Portugal o direito eventual a ter n'ella quinh?o.

Habilitar pois Portugal ? eventualidade de rehaver o que j? lhe pertenceu, e que por direito de preferencia melhor lhe deve ser restituido, ? o bello ideal que se affigura como sendo o caminho para o levar a uma posi??o digna, desassombrada e considerada na communidade europea; e tal seria aquella vers?o mediante a qual, sem desperdicio de for?as em aventurosas e longiquas expedi??es que revelam uma sobreposse de dominio com espirito exclusivista, e que muitas vezes significam esfor?os improficuos, complica??es em politica externa, e at? prejuizo n?o compensado em cabedal e vidas, e s?mente para disputar palmos de terra em regi?es inhospitas e s?faras, melhor ensejo lhe d?sse para aproveitar taes for?as e vontades, convergindo-as para mais perto e melhor caminho, e onde a posse e dominio seriam mais proveitosas em todo o sentido material e moral.

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