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Munafa ebook

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Read Ebook: Viagem ao Parnaso Impressões da leitura da Velhice do Padre Eterno poema notavel do distincto poeta Guerra Junqueiro by Frei Ugedio

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Ebook has 202 lines and 12362 words, and 5 pages

Por fim pousou-me n'uma rua estreita como um b?cco da decantada Alfama.

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E vi o solo lamacento, immundo, exhalando o cheiro acre e nauseabundo que sae das negras aguas d'um enxurro. Aqui, al?m, saltavam do monturo vadios e magros c?es de torvo olhar, desconfiados que lhes v?o disputar, andrajosos mendigos seus collegas, as presas immergidas nas bodegas.

Escorregando como um borrach?o vi-me em risco de beijocar o ch?o; e se a musa amiga me n?o ampara certamente que partiria a cara.

Corridos varios b?ccos tortuosos, que a bebeda co'os nomes mais pomposos, cantando, nomeava alegremente, ? laia de cicerone intelligente: topei com um palacio illuminado, e com lacaio ? porta enfardalhado.

--<>--perguntei assombrado.

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Presta ao meu discurso toda a atten??o se queres que te d? inspira??o.

--? a orgia! a filha do argentario, que gasta o ouro vil do usurario, e que talvez deixasse na miseria o pobre proletario--vil materia!

? a orgia! a impura mulher do vicio! que tem ha tanto seculo o baixo officio de macular as timidas consciencias.

? a orgia! que, sem guardar conveniencias, prostitue as gordas carnes oleosas n'um sidereo leito, ideal, de nublosas.

? a orgia que fez cahir os Romanos, aqui ha uns centos d'annos.

? filha della a walsa tentadora que, veloz, sensual, animadora, queima innocencia e queima candura.

Alcovitas prazer de pouca dura e nos d?s bellos sonhos c?r da rosa: mas findas na botica--? walsa caprichosa-- comprando copahiba, enxofre e capa rosa.>>

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--Nas luxuosas salas ostentam ro?agantes, rafadas toilettes, dignas de far?antes, os gotosos e sen?s peccados mortaes, emquanto, ao fog?o, as virtudes theologaes fazem soalheiro da vida das visinhas.

E se n?o fossem umas bellas ni?as --obras de misericordia positivas-- com toilettes de ver?o allusivas a appetitosas scenas sensuaes, das de comer e de gritar por mais: juro-te! ninguem iria ?s soir?es. Pelo menos, eu, n?o punha l? p?s.>>

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Em a nossa litteratura ha um facho que de homem tem o nome e ? mulher, e assigna seus artigos como quer.

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De novo caminh?mos. A manh? rompia.

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--<> a musa me dizia, <

Aperta mais o passo. O ceu est? nublado; se chove molho-me eu, que s? tu tens--telhado, pois inda fallas na Flor, no Sonho, e na Lua e coisas que s? prestam p'ra deitar ? rua.

Apanhamos uma chuvada tesa... ? mais que provavel, tenho a certeza; at? parece que senti na cara um pingo d'agua...>> --<> --<

O POETA

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--E a gota d'agua singela duas vezes a faz bella.>>--

A MUSA

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Dez minutos depois chovia em pingos grossos, batendo na cara como batem tremo?os, doendo, como d?i jogando entrudo bruto. Amea?ava n?o ficar um fio s? enxuto.

A lua no seu occaso illuminava a chuva par'cendo queda de brilhantes bagos d'uva, e no dizer da musa--escarros luminosos-- genuinos rivaes dos--brilhantes fulgurosos.

Dando uma corrida ligeira, alfim cheg?mos ? entrada do Parnaso, onde descan??mos.

Estava n'uma gruta escura e fedorenta. Havia emana??es d'ardores de pimenta. Tal escassez de luz havia ? sua entrada que adiante do nariz n?o se via mesmo nada. E, como isto estranhasse, a musa me explicava:

O azeite litt'rario de pre?o n?o baixava: assim, cada luz tinha apenas a ra??o igual ? d'aguardente que d'inverno d?o aos soldados da Parvonia, filhos de Marte; que muito de proposito em aquella parte se punham as luzes em menos quantidade, a fim de mais brilhar a interna claridade... --? a arte dos effeitos, a arte phenom'nal, a grande alavanca do moderno ideal.--

E, caminhando por eterno corredor lodacento e escuro e de grande pend?r, topamos finalmente co'um largo port?o, feito por modelo dos de reparti??o, com oculos de vidro e faces de ba?ta de sebenta, ignota c?r, mas que par'cia preta.

Companheira musa com chave original , a porta abrindo, diz, em tom desprezador:

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Espantado, vi mumias negras e mirradas em buracas, nas duras rochas escavadas, immoveis, lugubres, horrivelmente feias. Passeavam por cima vermes e centopeias; toldavam-nas o bolor, a humidade e o p?; e torpes ratos insultavam-nas sem d?.

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Talhado em rocha escura, formas angulosas e salientes, phantasticas e caprichosas, era o antro infecto, sinistro, a que a megera o pomposo nome--sal?o--ufana dera.

No topo havia um throno infame, original, feito de coisas varias que cheiravam mal. N'elle, repimpada, dirigia os trabalhos velha deshonesta, c'roada a resteas d'alhos: na dextra aureo sceptro--colossal estadulho; e, para dominar a borrasca do barulho, empunha, na esquerda, safardana chocalho, chavelho retorcido, armado co'um bogalho servindo de badalo--estranha campainha!

Aos p?s os classicos por almofada tinha.

As outras musas estavam acocoradas sobre grossos mont?es de pardas papelladas. Eram como gallinhas: estavam no ch?co chocando muito poema, tal como este,--?co.

Em mochos de pinho vil, os modernos bardos sobra?ando mais pennas que no campo ha cardos, com carga de papel manteigueiro, barato, como o grosseiro alarve d'um burguez pacato.

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