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Read Ebook: Historias de Reis e Principes by Pimentel Alberto
Font size: Background color: Text color: Add to tbrJar First Page Next PageEbook has 1239 lines and 68706 words, and 25 pagesO texto aqui transcrito, ? uma c?pia integral do livro impresso em 1890. Mantivemos a grafia usada na edi??o impressa, tendo sido corrigidos alguns pequenos erros tipogr?ficos evidentes, que n?o alteram a leitura do texto, e que por isso n?o consider?mos necess?rio assinal?-los. Alberto Pimentel HISTORIAS REIS E PRINCIPES PORTO Cancella Velha, 66 INDICE HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES <<... le roman est l'histoire des hommes et l'histoire le roman des rois.>> UM REI E UM CONSPIRADOR Fern?o da Silveira, filho primogenito do bar?o de Alvito, foi escriv?o da puridade de D. Jo?o II, e figura como poeta no CANCIONEIRO de Garcia de Rezende. Parece que o rei n?o tinha sobejos motivos para confiar no seu escriv?o. Certo dia mand?ra chamar, por um mo?o da camara, Fern?o da Silveira. D. Jo?o II n?o se queria referir ao secretario particular, mas a outro Fern?o da Silveira, o coudel-m?r, tambem poeta como o seu homonymo. Comparecendo o escriv?o da puridade em vez do coudel-m?r, D. Jo?o II agastou-se e perguntou ao mo?o da camara: --A quem te mandei chamar? --A Fern?o da Silveira. O escriv?o da puridade julgou-se desconsiderado com estas palavras do rei e, sahindo do Pa?o, como encontrasse no Rocio D. Martinho de Castello Branco, desabafou com elle. D. Martinho procurou aquietal-o com bom conselho, por?m Fern?o da Silveira insistiu em mostrar-se agastado contra o rei, de quem jurou vingar-se. --Mas o que podereis v?s fazer? perguntou D. Martinho. --Matal-o, respondeu o escriv?o da puridade. E correu d'alli a bandear-se com os conspiradores: o duque de Vizeu, o bispo d'Evora D. Garcia, o irm?o do bispo, D. Fernando de Menezes, D. Guterres Coutinho, D. Alvaro Coutinho e seu filho, o conde de Penamac?r e seu irm?o D. Pedro d'Albuquerque. D. Jo?o II soube das conferencias mysteriosas dos conspiradores, celebradas em Santarem, f?ra de portas. Por mais de uma dela??o o soubera. Tinha o bispo d'Evora certa manceba, de nome Margarida Tinoco, a cujo irm?o, Diogo Tinoco, ella revel?ra o segredo da conspira??o. Foi este homem que, disfar?ado em frade, procurou o rei no convento de S. Francisco em Setubal, e lhe denunciou os conspiradores, recebendo em troca uma larga merc?, que a morte, devida talvez a pe?onha mandada propinar pelos denunciados, lhe n?o deixou gozar. D. Jo?o II recebeu outra den?ncia por D. Vasco Coutinho, a quem seu irm?o D. Guterres pozera ao facto da conspira??o. D. Vasco arrecadou em premio o condado de Borba, importando-se pouco com perder o irm?o, que veio a acabar preso na torre de Aviz. Quando Fern?o da Silveira teve conhecimento d'esta dela??o, e da explos?o da colera do rei para com o duque de Vizeu, exclamou: --Soube D. Vasco agu?ar os pesco?os! Os officiaes foram, e n?o acharam Fern?o da Silveira. Encontraram apenas uma barjoleta com muitos cruzados, que lhe havia confiado o duque de Vizeu para occorrer ?s despezas da conspira??o. O escriv?o da puridade, n?o tendo j? tempo para fugir de Setubal, f?ra esconder-se em casa de um velho escudeiro de seu pai, de nome Jo?o Pegas, que n?o duvidou recebel-o, a despeito do perigo que por esse facto podia correr. Pegas metteu o filho de seu amo dentro de uma grande arca sem fundo. Fingindo que guardava p?o na arca, alimentava todos os dias o conspirador. Uma escrava preta, que havia em casa, cuidou ouvir gemidos, que sahiam da arca. Disse-o a Jo?o Pegas que, receiando se descobrisse o segredo, ordenou ? preta que se calasse at? que elle no dia seguinte verificasse se era verdadeiro ou n?o o caso dos gemidos. Ao outro dia, a escrava tornou a ouvir gemer. Foi dizel-o a Jo?o Pegas, que se levantou do leito immediatamente, e a mandou buscar um balde de agua ao po?o. Quando a escrava estava tirando a agua, Pegas precipitou-a no po?o, esperando cautelosamente que ella acabasse de escabujar na afflic??o extrema dos afogados. Logo que reconheceu que estava morta, gritou publicando que a escrava se afog?ra. Mas o segredo do escondrijo de Fern?o da Silveira ficou no fundo do po?o, que era o que Jo?o Pegas queria conseguir. Decorreu tempo, e o escudeiro tratou de fazer sahir de Portugal o seu hospede. Valeu-se para isso de um mercador, que se chamava Bartolo, e que levou comsigo para Sevilha Fern?o da Silveira, disfar?ado em mendigo. Salvo em Castella, o foragido foi bem acceito na c?rte de Izabel a Catholica, e l? lhe acudia com auxilios pecuniarios o conde de Benavente, fidalgo castelhano, que f?ra grande amigo do pai de Fern?o. Mandava-lhe todos os mezes um saco com duzentos escudos, mas Fern?o da Silveira s? tirava cinco, e devolvia o resto. O castelhano todos os mezes insistia em igual remessa, e o portuguez n?o deixava de insistir na recusa da quantia excedente a cinco escudos. Comprehendeu o castelhano que era aquelle um homem retemperado de invencivel altivez lusitana, e, para acabar de experimental-o, certo dia em que se juntaram com outros fidalgos na ante-camara dos reis catholicos, deixou o conde cahir uma luva. Fern?o da Silveira, em vez de se dar pressa em levantal-a, sentou-se n'um bufete. O conde de Benavente n?o desgostou d'esta arrogancia t?o conforme ao espirito hespanhol, e celebrou-a. A noticia do facto espalhou-se com applauso na c?rte de Castella, e chegou ? de Portugal, onde D. Jo?o II, comquanto sempre resentido dos aggravos recebidos de Fern?o da Silveira, e sempre implacavel nos seus projectos de vingan?a, commentou a noticia com esta phrase sentenciosa: --Fern?o da Silveira aonde chegar ha de sempre ter lugar. D. Jo?o II mand?ra citar por carta de ?ditos Fern?o da Silveira, emquanto estivera escondido em casa de Jo?o Pegas, para que se apresentasse perante o rei e o seu conselho, no termo de quarenta dias, a fim de se livrar < Passou-se o praso de quarenta dias, e Fern?o da Silveira n?o appareceu. N'essa n?o cahia elle, que bem sabia a sorte que o esperava se apparecesse. Chegou o dia da audiencia, e o porteiro do tribunal, Jo?o Trancoso, apregoou o r?o. Como se n?o apresentasse, nem outrem por elle, o procurador da justi?a offereceu o libello articulado sobre os seguintes factos criminosos: < Ouvido o libello pelo rei e seu conselho, foram julgados procedentes os artigos de accusa??o, ordenando D. Jo?o II que se o r?o tivesse artigos contrarios, viesse com elles. Como n?o veio, correu o processo ? revelia, sendo admittida a prova do procurador da justi?a, o qual offereceu a inquiri??o devassa que por este motivo havia sido tirada. Fern?o da Silveira teve conhecimento dos ?ditos de cita??o; mas s? quando se viu salvo em Castella ousou denunciar o seu paradouro, n?o escrevendo uma justifica??o judicial, mas dirigindo particularmente ao rei uma carta audaciosa, de que vamos extrahir alguns periodos: No final da carta, que ? um documento importantissimo para a historia da ?poca, allude Fern?o da Silveira ? phrase dita por D. Jo?o II ao mo?o da camara, phrase que determinou o seu procedimento contra o rei: O processo subiu concluso perante o rei em Rela??o com os do seu Conselho e Desembargo, sendo proferida senten?a condemnatoria a dez de junho de 1485, dada na villa de Portel: <<... condemnamos, e mandamos onde quer que f?r achado, e tomado, e comprehendido dentro em estes Reinos, e seus Senhorios, e em qualquer Cidade, Villa, ou Lugar d'elles, logo morra cruel morte natural, e seja esquartejado, e seus quartos de seu corpo sejam postos nas portas da Cidade, Villa, ou Lugar onde f?r preso, e a sua cabe?a seja posta no Pelourinho: e isto sem elle mais ser ouvido, nem requerido, visto como este maleficio ? claro, e notorio, e que elle principalmente e primeiro o commetteu, tratou, conspirou a dita maldade, e trai??o: e havemos todos seus bens moveis, e de raiz, e assim os da Cor?a do Reino, se os trazia, e os patrimoniaes, e declaramos por confiscados e applicados ? Cor?a Real d'estes nossos reinos, a que direitamente pertencem.>> Em 1487, n'um conselho realisado em Santarem, ventilou-se a quest?o de assentar no destino a dar ?s mulheres dos conspiradores, sobre as quaes recahiam suspeitas de estarem em intelligencia com os maridos. Ao dr. Jo?o Teixeira, chanceller-m?r, pareceu melhor n?o renovar a lembran?a de factos que o tempo ia esquecendo. Que, mais aquietadas as paix?es politicas, bem podiam os filhos dos conspiradores ser leaes servidores d'el-rei. Add to tbrJar First Page Next Page |
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