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Read Ebook: A Intrusa by Almeida J Lia Lopes De
Font size: Background color: Text color: Add to tbrJar First Page Next PageEbook has 3836 lines and 190778 words, and 77 pagesProduced by: Laura Natal Rodrigues A INTRUSA LIVRARIA FRANCISCO ALVES--EDITOR R. do Ouvidor, 134--Rio de Janeiro R. de S. Bento, 65--S. Paulo Rua da Bahia--Bello Horisonte NOTA: A INTRUSA --Que temporal! --E um friosinho! Conhecem voc?s nada mais gostoso do que ouvir-se o barulho forte da chuva quando se est? agazalhado? Eu estou-me regalando! --Sempre o mesmo egoista! Como est?s em tua casa!... mas... desalmado, lembra-te de n?s! S?o quasi horas de me ir recolhendo aos meus penates. E alli o padre Assump??o, caso n?o fique pelo caminho, ter? tambem que marchar um bom peda?o a p?. Ao Telles, esse o bond leva-o at? ao quarto de dormir! Nasceu impellicado. Por essa feia noite de chuva, conversavam em casa do advogado Argemiro Claudio, no Cosme Velho, o seu grande amigo padre Assump??o, o deputado Armindo Telles e o Adolpho Caldas, homem de quarenta annos, sem profiss?o determinada, mas muito bem acceito nas rodas politicas e litterarias, que frequentava assiduamente. Tinham jantado tarde, fumavam agora na bibliotheca de Argemiro, sentados ? mesa do poker. Menos por virtude que por cansa?o, padre Assump??o n?o quizera tomar parte no jogo e andava pela sala sacudindo o panno da batina a cada impulso das suas largas passadas. Era alto, magro, anguloso, de uma c?r pallida; e nas suas fei??es accentuadas, em que melhor condiria o sarcasmo, havia uma tal express?o de candura, que Adolpho Caldas costumava dizer: --O riso do Assump??o cheira a rosas brancas. < O dr. Argemiro Claudio de Menezes, descendente directo dos Iglesias de Menezes, nobres de Portugal, cujo solar brazonado existe ainda, bem que arruinado, naquelle reino, em terras limitrophes da Hespanha, ? beira de um rio espelhento e de pinheiraes perdidos,--era um homem ainda mo?o, robusto, de carnes solidas e uns olhos negros, em que talvez a ra?a arabe transparecesse ainda, ado?ada pelo cruzamento com a lusitana. A barba preta, talhada rente ao rosto pallido, tinha j? um ou outro fio prateado, e o cabello muito curto desenhava-lhe a cabe?a redonda e forte. Tinha as m?os pequenas, a attitude pregui?osa, em contradic??o ? energia do typo. Viuvo ha sete annos de uma formosa senhora, cujo retrato apparecia em todos os cantos da casa, elle protest?ra n?o tornar a casar-se. A mulher, filha dos Bar?es do Cerro Alegre, levara-lhe a melhor por??o da sua vida. Do primeiro anno do seu casamento, que durara cinco, existia uma filha, Maria da Gloria. Vivia esta menina com os av?s maternos, numa chacara dos suburbios, e andava agora pelos seus onze annos e os rudimentos de portuguez e de musica. Tanto como o pae e os av?s, por ella se interessava o padrinho, padre Assump??o. Sem interromper a partida, o deputado Armindo Telles gabou-se: --Foi hoje um dos dias mais bellos da minha vida; n?o preciso de mais nada para julgar-me compensado dos enormes sacrificios que a deputa??o me tem custado... rios de dinheiro, noites de insomnia, descomposturas de outros partidos... de tudo colhi hoje o premio. Imaginem voc?s que tive de luctar renhidamente com o proprio governo, molestar collegas, ir de encontro mesmo a principios que prezo de gratid?o pessoal e de conveniencia propria, e que, arrostando tudo, como um soldado na guerra, consegui a minha victoria. Imaginem se n?o devo estar satisfeito! Uma victoria politica, j? o disse Chartrier, embriaga melhor que o mais velho licor. Armindo Telles pareceu n?o ouvil-o e continuou: --Infelizmente, temos agora na camara poucos talentos de combate. Carecemos de mais vivacidade... A indifferen?a de uns e a m? vontade de muitos enfraquecem os golpes de um ou outro mais enthusiasta... Eu cruzei as minhas armas, nesta porfia, com os maiores talentos da camara e feri-os a todos sem piedade. Creei inimigos; pouco importa, mas triumphei! Adolpho Caldas, levantando os olhos das cartas em leque na m?o gorducha, indagou, sorrindo: --Por que feito illustre glorificaste a patria? --Pelo reconhecimento do Sim?o da Cunha, o meu collega Sim?o da Cunha, que a camara em peso guerreava! Sob o bigode de Argemiro passou a sombra de um sorriso. Adolpho Caldas impregnou de candida ingenuidade os seus maliciosos olhos castanhos e disse apenas, como a procurar: --Cunha?... E depois: --Ah! o Sim?o! sim... ? desempenado. Veste-se bem. --N?o ? aguia, affirmou Telles; mas ? o que se chama--uma mediocridade operosa--e ?, sobretudo, um homem de bem! --Isso em politica n?o tem valor... commentou o dono da casa. Mas que faz voc? ahi, padre Assump??o, remexendo nas estantes?! --Estou a ver se encontro algum livro de Chartrier... --Olha, o catalogo dos livros deve estar naquella gaveta, se acaso o Feliciano j? o n?o deitou ao fogo! Eu j? nem sei o que tenho... --O que voc? deve procurar ? os serm?es do Padre Vieira! disse malignamente Armindo Telles. --N?o preciso; sei-os de c?r. --Impinge-os como seus? --Impingil-os-ia se os deputados fossem ? igreja; mas voc? sabe, aos outros n?o... tenho medo que percebam! Riram-se todos. Telles retrucou: --Ainda o hei de ver na tribuna parlamentar, padre! --Talvez. Os cilicios fazem os santos... mas eu, humilde padre, encontraria quem se batesse por mim com o mesmo denodo com que voc? se bateu pelo...? --Sim?o da Cunha. --Por esse senhor? --Eu mesmo. --Guarde as suas armas para melhor combate, amigo. N?o tenho envergadura sen?o para um servi?o--o divino. C? tem voc? um livro precioso, Argemiro. --Qual ?? --Vida de D. Frei Bertolameu dos Martyres. Adolpho Caldas commentou: --Solemnissimo! que bella lingua, reverendo! --Formosa! Frei Luiz de Souza tinha a quem sahir... Padre Assump??o ficou de p?, junto ? alta estante de jacarand?, folheando o livro, muito attento. O deputado recolheu as cartas dos parceiros: ganhava o jogo. Add to tbrJar First Page Next Page |
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