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Munafa ebook

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Read Ebook: O Guarany: romance brazileiro Vol. 1 (of 2) by Alencar Jos Martiniano De

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Ebook has 2495 lines and 57591 words, and 50 pages

Produced by: Laura Natal Rodrigues and Kristen Carmean

J. DE ALENCAR

O GUARANY

ROMANCE BRAZILEIRO

QUINTA EDI??O

TOMO PRIMEIRO

RIO DE JANEIRO

B.-L. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR

PARIS.--E. MELLIER, 17, RUA S?GUIER.

Fic?o reservados os direitos de propriedade.

AO LEITOR

Publicando este livro em 1857, se disse ser aquella primeira edi??o uma prova typographica, que algum dia talvez o autor se dispuzesse a rever.

Esta nova edi??o devia dar satisfa??o do empenho, que a extrema benevolencia do publico ledor, t?o minguado ainda, mudou em bem para divida de reconhecimento.

Mais do que podia fiou de si o autor. Relendo a obra depois de annos, achou elle t?o mau e incorrecto quando escrevera, que para bem corrigir, fora mister escrever de novo. Para tanto lhe carece o tempo e sobra o tedio de um labor ingrato.

Cingio-se pois ?s pequenas emendas que tolerav?o o plano da obra e o desalinho de um estylo n?o castigado.

PRIMEIRA PARTE

OS AVENTUREIROS

SCENARIO

Dir-se-hia que vassallo e tributario desse rei das aguas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos p?s do suzerano. Perde ent?o a belleza selvatica; suas ondas s?o calmas e serenas como as de um lago, e n?o se revolt?o contra os barcos e as can?as que resval?o sobre ellas: escravo submisso, soffre o latego do senhor.

N?o ? neste lugar que elle deve ser visto; sim tres ou quatro leguas acima de sua foz, onde ? livre ainda, como o filho indomito desta patria da liberdade.

Depois, fatigado do esfor?o supremo, se estende sobre a terra, e adormece n'uma linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.

A vegeta??o nessas paragens ostentava outr'ora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendi?o ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capiteis formados pelos leques das palmeiras.

Tudo era grande e pomposo no scenario que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas magestosos dos elementos, em que o homem ? apenas um simples comparsa.

No anno do gra?a de 1604, o lugar que acabamos de descrever estava deserto e inculto; a cidade do Rio de Janeiro tinha-se fundado havia menos de meio seculo, e a civilisa??o n?o tivera tempo de penetrar o interior.

Entretanto, via-se ? margem direita do rio uma casa larga e espa?osa, construida sobre uma eminencia, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique.

A esplanada, sobre que estava assentado o edificio, formava um semicirculo irregular que teria quando muito cincoenta bra?as quadradas: do lado do norte havia uma especie de escada de lagedo feita metade pela natureza e metade pela arte.

Descendo dous ou tres dos largos degr?os de pedra da escada, encontrava-se uma ponte de madeira solidamente construida sobre uma fenda larga e profunda que se abria na rocha. Continuando a descer, chegava-se ? beira do rio, que se curvava em seio gracioso; sombreado pelas grandes gameleiras e angelins que cresci?o ao longo das margens.

Ahi, ainda a industria do homem tinha aproveitado habilmente a natureza para crear meios de seguran?a e defeza.

De um e outro lado da escada segui?o dous renques de arvores, que, alargando gradualmente, i?o fechar como dous bra?os o seio do rio; entre o tronco dessas arvores, uma alta cerca de espinheiros tornava aquelle pequeno valle impenetravel.

A casa era edificada com a architectura simples e grosseira, que ainda apresent?o as nossas primitivas habita??es; tinha cinco janellas de frente, baixas, largas, quasi quadradas.

Do lado direito estava a porta principal do edificio, que dava sobre um pateo cercado por uma estacada, coberta de mel?es agrestes. Do lado esquerdo estendia-se at? ? borda da esplanada uma aza do edificio, que abria duas janellas sobre o desfiladeiro da rocha.

No angulo que esta aza fazia com o resto da casa, havia uma cousa que chamaremos jardim, e de facto era uma imita??o graciosa de toda a natureza rica, vigorosa e esplendida, que a vista abra?ava do alto do rochedo.

Flores agrestes das nossas mattas, pequenas arvores copadas, um estandal de relvas, um fio d'agua, fingindo um rio e formando uma pequena cascata tudo isto a m?o do homem tinha creado no peqneno espa?o com uma arte e gra?a admiravel.

? primeira vista, olhando esse rochedo da altura de duas bra?as, donde se precipitava um arroio da largura de um copo d'agua, e o monte de gramma, que tinha quando muito o tamanho de um divan, parecia que a natureza se havia feito menina, e se esmerara em crear por capricho uma miniatura.

O fundo da casa, inteiramente separado do resto da habita??o por uma cerca, era tomado por dous grandes armazens ou senzalas, que servi?o de morada a aventureiros e acostados.

Finalmente, na extrema do pequeno jardim, ? beira do precipicio, via-se uma cabana de sap?, cujos esteios er?o duas palmeiras que havi?o nascido entre as fendas das pedras. As abas do tecto desci?o at? o ch?o: um ligeiro sulco privava as aguas da chuva de entrar nesta habita??o selvagem.

Agora que temos descripto o aspecto da localidade, onde se deve passar a maior parte dos acontecimentos desta historia, podemos abrir a pesada porta de jacarand? que serve de entrada, e penetrar no interior do edificio.

A sala principal, o que chamamos ordinariamente sala da frente, respirava um certo luxo que parecia impossivel existir nessa ?poca em um deserto, como era ent?o aquelle sitio.

As paredes e o tecto er?o caiados, mas cingidos por um largo flor?o de pintura a fresco; nos espa?os das janellas pendi?o dous retratos que representav?o um fidalgo velho e uma dama tambem idosa.

Sobre a porta do centro desenhava-se um bras?o d'armas em campo de cinco vieiras de ouro, riscadas em cruz entre quatro rosas de prata sobre pallas e faixas. No escudo, formado por uma brica de prata, orlada de vermelho, via-se um elmo tambem de prata paquife de ouro e de azul, e por timbre um meio le?o de azul com uma vieira de ouro sobre a cabe?a.

Um largo reposteiro de damasco vermelho, onde se reproduzia o mesmo bras?o, occultava esta porta, que raras vezes se abria, e dava para um oratorio. Defronte, entre as duas janellas do meio, havia um pequeno docel fechado por cortinas brancas com apanhados azues.

Cadeiras de couro de alto espaldar, uma mesa de jacarand? de p?s torneados, uma lampada de praia suspensa ao tecto, constitui?o a mobilia da sala, que respirava um ar severo e triste.

Os aposentos interiores er?o do mesmo gosto, menos as decora??es heraldicas; na aza do edificio, por?m, esse aspecto mudava de repente, e era substituido por um quer que seja de caprichoso e delicado que revelava a presen?a de uma mulher.

Com effeito, nada mais lou??o do que essa alcova, em que os brocateis de seda se confundi?o com as lindas pennas de nossas aves, enla?adas em grinaldas e fest?es pela orla do tecto e pela cupola do cortinado de um leito collocado sobre um tapete de pelles de animaes selvagens.

A um canto, pendia da parede um crucifixo em alabastro, aos p?s do qual havia um escabello de madeira dourada.

Pouco distante, sobre uma commoda, via-se uma dessas guitarras hespanholas que os ciganos introduzir?o no Brasil quando expulsos de Portugal, e uma collec??o de curiosidades mineraes de c?res mimosas e formas exquisitas.

Junto ? janella, havia um traste que ? primeira vista n?o se podia definir; era uma especie de leito ou sof? de palha matisada de varias c?res e entremeiada de pennas negras e escarlates.

Uma gar?a real empalada, prestes a desatar o v?o, segurava com o bico a cortina de tafet? azul que ella abria com a ponta de suas azas brancas e cahindo sobre a porta, vendava esse ninho da innocencia aos olhos profanos.

Tudo isto respirava um suave aroma de beijoim, que se tinha impregnado nos objectos como o seu perfume natural, ou como a atmosphera do paraiso que uma fada habitava.

LEALDADE

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