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Munafa ebook

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Read Ebook: O Guarany: romance brazileiro Vol. 2 (of 2) by Alencar Jos Martiniano De

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Ebook has 2083 lines and 52883 words, and 42 pages

--N?o se passa.

--E por que raz?o?

--? a ordem, respondeu Martim Vaz.

Ruy empallideceu, e voltou apressadamente; a primeira id?a que lhe acudio foi que os tinh?o denunciado, e cuidou em prevenir a Loredano.

Ayres Gomes por?m embargou-lhe o passo, e dirigio-se com elle para o terreiro: ahi o digno escudeiro desempenando o corpo, e levando a m?o ? bocca em f?rma de busina, gritou:

Ol?! ? frente toda a banda!

Os aventureiros cheg?r?o-se formando um circulo ao redor de Ayres Gomes; Ruy j? tinha tido occasi?o de lan?ar uma palavra ao ouvido do italiano; e ambos, um pouco pallidos mas resolutos, esperav?o o desfecho daquella scena.

--O Sr. D. Antonio de Mariz, disse o escudeiro, por meu intermedio vos faz saber a sua vontade, e manda que ninguem se afaste um passo da casa sem sua ordem. Quem o contrario fizer pere?a morte natural.

Um silencio morno acolheu a enuncia??o desta ordem; Loredano trocou uma vista rapida com os seus dous complices.

--Estais entendidos? disse Ayres Gomes.

--O que nem eu, nem meus companheiros entendemos ? a raz?o disto, retrucou o italiano avan?ando um passo.

--Sim; a raz?o? exclamou em coro a maioria dos aventureiros.

--As ordens cumprem-se, e n?o se discutem, respondeu o escudeiro com uma certa solemnidade.

--Comtudo n?s... ia dizendo Loredano.

--Toca a debandar! gritou Ayres Gomes. Aquelle que n?o estiver contente, que o diga ao Sr. D. Antonio de Mariz.

E o escudeiro com uma fleugma imperturbavel rompeu o circulo, e come?ou a passear pelo terreiro olhando de travez os aventureiros, e rindo ? sorrelfa do seu desapontamento.

Quasi todos estav?o contrariados; sem fallar dos conspiradores que se havi?o emprazado para concertarem seu plano de campanha, os outros, cujo divertimento era ca?ar e bater os mattos, n?o recebi?o a ordem com prazer. Apenas alguns de genio mais bonach?o e jovial tinh?o tomado a cousa ? boa parte, e zombav?o da contrariedade que soffri?o seus companheiros.

Quando Alvaro se aproximou todos os olhos se volt?r?o para elle, esperando a explica??o do que se passava.

--Sr. cavalheiro, disse Ayres Gomes, acabo de transmittir a ordem para que ninguem arrede p? da casa.

--Bem, respondeu o mo?o, e continuou dirigindo-se aos aventureiros: Assim ? preciso, meus amigos, estamos amea?ados de um ataque dos selvagens, e toda a prudencia ? pouca nestas occasi?es. N?o ? s? a nossa vida que temos a defender, e essa pouco vale para cada um de n?s; ? sim a pessoa daquelle que confia em nosso zelo e coragem, e mais ainda o socego de uma familia honrada que todos prezamos.

As nobres palavras do cavalheiro, e a affabilidade do gesto que suavisava a firmeza de sua voz, seren?r?o completamente os animos; todos os descontentes mostr?r?o-se satisfeitos.

Apenas Loredano estava desesperado por ser obrigado a retardar a combina??o do seu plano; pois era arriscado tenta-lo em casa, onde o menor gesto o podia trahir.

Alvaro trocou poucas palavras com Ayres Gomes, e voltou-se para os aventureiros:

--D. Antonio de Mariz precisa de quatro homens dedicados para acompanharem seu filho D. Diogo ? cidade de S. Sebasti?o. ? uma miss?o perigosa; quatro homens nestes desertos march?o de perigo em perigo. Quem de v?s se offerece para desempenha-la?

Vinte homens se adiant?r?o; o cavalheiro escolheu tres entres elles.

--V?s sereis o quarto, Loredano.

O italiano, que se tinha escondido entre os seus companheiros, ficou como fulminado por estas palavras; sahir naquella occasi?o da casa era perder para sempre a sua mais ardente esperan?a; durante a ausencia tudo podia se descobrir.

--Peza-me ser obrigado a negar-me ao servi?o que exigis de mim; mas sinto-me doente, e sem for?as para uma viagem.

O cavalheiro sorrio.

--N?o ha enfermidade que prive um homem de cumprir o seu dever; sobretudo quando ? um homem valente e leal como v?s, Loredano.

Depois abaixou a voz para n?o ser ouvido pelos outros aventureiros:

--Se n?o partis, sereis arcabuzado em uma hora. Esqueceis que tenho a vossa vida em minha m?o, e vos fa?o esmola mandando-vos sahir desta casa?

O italiano comprehendeu que n?o tinha remedio sen?o partir; bastava que o mo?o o accusasse de ter atirado sobre elle, bastava a palavra de Alvaro para faz?-lo condemnar pelo chefe e pelos seus proprios companheiros.

--Aviai-vos, disse o cavalheiro aos quatro aventureiros escolhidos por elle; partis em meia hora.

Alvaro retirou-se.

Loredano ficou um momento abatido pela fatalidade que pesava sobre elle; mas a pouco a pouco foi recobrando a calma, animando-se; por fim sorrio. Para que sorrisse era necessario que alguma inspira??o infernal tivesse subido do centro da terra a essa intelligencia votada ao crime.

Fez um aceno a Ruy Soeiro, e os dous encaminh?r?o-se para um cubiculo que o italiano occupava no fim da esplanada. Ahi convers?r?o algum tempo, rapidamente e em voz baixa.

For?o interrompidos por Ayres Gomes, que bateu com a espada na porta:

--Eh! l?! Loredano. A cavallo, homem; e boa viagem.

O italiano abrio a porta, e ia sahir; mas voltou-se para dizer a Ruy Soeiro:

--Olhai os homens da guarda; ? o principal.

--Ide tranquillo.

Alguns minutos depois, D. Diogo, com o cora??o cerrado e as lagrimas nos olhos, apertava nos bra?os sua m?i querida, Cecilia que elle adorava, e Isabel que j? amava tambem como irm?.

Depois desprendendo-se com um esfor?o, encaminhou-se apressadamente para a escada e desceu ao valle; ahi recebeu a ben??o de seu pai e abra?ando a Alvaro saltou na sella do cavallo, que Ayres Gomes tinha pela redea.

A pequena cavalgata partio; com pouco sumia-se na volta do caminho.

PREPARATIVOS

Ao tempo que D. Antonio de Mariz e seu filho conversav?o no gabinete, Pery examinava as suas armas, carregava as pistolas que sua senhora lhe havia dado na vespera, e sahia da cabana.

A physionomia do selvagem tinha uma express?o de energia e ardimento, que revelava resolu??o violenta, talvez desesperada.

O que ia fazer, nem elle mesmo sabia. Certo de que o italiano e seus companheiros se reuniri?o naquella manh?, contava antes que a reuni?o se effectuasse ter mudado inteiramente a face das cousas.

S? tinha uma vida como dissera; mas essa com a sua agilidade e a sua for?a e coragem valia por muitas; tranquillo sobre o futuro pela promessa de Alvaro, n?o lhe importava o numero dos inimigos: podia morrer mas esperava deixar pouco ou talvez nada que fazer ao cavalheiro.

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