Read Ebook: A confissão de Lucio: Narrativa. by S Carneiro M Rio De
Font size: Background color: Text color: Add to tbrJar First Page Next Page Prev PageEbook has 558 lines and 29392 words, and 12 pagesMas finalmente, saciada ap?s estranhas epilepsias, num salto prodigioso, como um meteoro--ruivo meteoro--ela veio tombar no lago que mil lampadas ocultas esbatiam de asul cendrado. Ent?o foi a apoteose: Toda a agua asul, ao recebe-la, se volveu vermelha de brasas, encapelada, ardida pela sua carne que o fogo penetrara... E numa ansia de se extinguir, possessa, a fera nua mergulhou... Mas quanto mais se abismava, mais era lume ao seu red?r... ... At? que por fim, num misterio, o fogo se apagou em oiro e, morto, o seu corpo flutuou heraldico sobre as aguas douradas--tranquilas, mortas tambem... A luz normal regressara. Era tempo. Mulheres debatiam-se em ataques de histerismo; homens, de rostos congestionados, tinham gestos incoerentes... As portas abriram-se e n?s mesmos, perdidos, sem chapeus--encontr?mo-nos na rua, afogueados, perplexos... O ar fresco da noite, vergastando-nos, fez-nos despertar; e como se chegassemos dum sonho que os tr?s houvessemos sonhado--olhamo-nos inquietos, num espanto mudo. Sim, a impress?o f?ra t?o forte, a maravilha t?o alucinadora, que n?o tivemos animo para dizer uma palavra. Esmagados, aturdidos, cada um de n?s voltou para sua casa... Sa?. Jantei. Quando entrava no Caf? Riche, alguem me bateu no ombro: --Ent?o como passa o meu amigo? Vamos, as suas impress?es?... Era Ricardo de Loureiro. Fal?mos largamente ?cerca das extraordinarias coisas que presencearamos. E o poeta concluiu que tudo aquilo, mais lhe parecia hoje uma vis?o de onanista genial do que a simples realidade. Quanto ? americana fulva, n?o a tornei a ver. O proprio Gervasio deixou de falar nela. E, como se se tratasse dum misterio d'Alem a que valesse melhor n?o aludir--nunca mais nos referimos ? noite admiravel. Se a sua lembran?a me ficou para sempre gravada, n?o foi por a ter vivido--mas sim porque, dessa noite, se originava a minha amizade com Ricardo de Loureiro. Assim sucede com efeito. Referimos certos acontecimentos da nossa vida a outros mais fundamentais--e muitas vezes, em torno dum beijo, circula todo um mundo, toda uma humanidade. Ah! sem duvida amizade predestinada aquela que come?ava num scenario t?o estranho, t?o perturbador, t?o dourado... Decorrido um m?s, eu e Ricardo eramos n?o s? dois companheiros inseparaveis, como tambem dois amigos intimos, sinceros, entre os quais n?o havia mal-entendidos, nem quasi j? segredos. O meu convivio com Gervasio Vila-Nova cessara por completo. Mesmo, passado pouco, ?le regressou a Portugal. Ah! como era bem diferente, bem mais expontanea, mais cariciosa, a intimidade com o meu novo amigo! E como estavamos longe do Gervasio Vila-Nova que, a propoposito de coisa alguma, fazia declara??es como esta: Ou ent?o: --Creia, meu querido amigo, voc? faz muito mal em colaborar nessas revistecas l? de baixo ... em se apressar tanto a imprimir os seus volumes. O verdadeiro artista deve guardar quanto mais possivel o seu in?dito. V?ja se eu j? exp?s alguma vez... S? compreendo que se publique um livro numa tiragem reduzida; e a 100 francos o exemplar, como fez o ... . Ah! eu abomino a publicidade!... As minhas conversas com Ricardo--pormenor interessante--foram logo desde o inicio, bem mais conversas de alma, do que simples conversas de intelectuais. Pela primeira vez eu encontrara efectivamente alguem que sabia descer um pouco aos recantos ignorados do meu espirito--os mais sensiveis, os mais dolorosos para mim. E com ?le o mesmo acontecera--havia de mo contar mais tarde. N?o eramos felizes--oh! n?o... As nossas vidas passavam torturadas de ansias, de incompreens?es, de agonias de sombra... Subiramos mais alto; pairavamos sobre a vida. Podiamo-nos embriagar de orgulho, se quis?ssemos--mas sofriamos tanto ... tanto... O nosso unico refugio era nas nossas obras. Pintando-me a sua angustia, Ricardo de Loureiro fazia perturbadoras confidencias, tinha imagens estranhas: Eu punha-me a anima-lo; a dizer-lhe inferiormente que urgia p?r de parte essas ideias abatidas. Um belo futuro se alastrava em sua face. Era preciso ter coragem! Perante tal resposta, esbocei uma interroga??o muda, a que o poeta volveu: --Ah! sim, talvez n?o compreendesse... Ainda lhe n?o expliquei. Oi?a: Desde crian?a que, pensando em certas situa??es possiveis numa existencia, eu, antecipadamente, me vejo ou n?o vejo nelas. Por exemplo: uma coisa onde nunca me vi, foi na vida--e diga-me se na realidade nos encontramos nela? Mas descendo a pequenos detalhes: Add to tbrJar First Page Next Page Prev Page |
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