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Munafa ebook

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Read Ebook: Ashcliffe Hall: A tale of the last century by Holt Emily Sarah

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Ebook has 2271 lines and 103678 words, and 46 pages

OPUSCULOS V

POR

A. HERCULANO

SOCIO DE MERITO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE LISBOA

SOCIO ESTRANGEIRO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE BAVIERA

SOCIO CORRESPONDENTE DA R. ACADEMIA DA HISTORIA DE MADRID DO INSTITUTO DE FRAN?A DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE TURIM DA SOCIEDADE HISTORICA DE NOVA YORK, ETC.

CONTROVERSIAS E ESTUDOS HISTORICOS

TOMO II

LISBOA

VIUVA BERTRAND & C.^a SUCCESSORES CARVALHO & C.^a

M DCCC LXXX VI

COIMBRA--IMPRENSA DA UNIVERSIDADE

ANTONIO DE SERPA PIMENTEL

DEDICAM

OS EDITORES

Comp?e-se este volume de tres escriptos j? impressos em outras ?pochas, mas provavemente desconhecidos da maior parte dos leitores actuaes, e bem assim de um notavel estudo inedito ?cerca do Feudalismo, que o auctor n?o chegou a concluir, e em que trabalhava quando a morte o surprehendeu.

Pouco diremos a respeito d'aquellas primeiras composi??es.

At? aqui fal?mos de trabalhos que j? tinham visto a luz publica, e a respeito dos quaes ? sufficiente o que fica dicto. Agora, por?m, chegados ? parte inedita e mais valiosa do presente volume, procuraremos satisfazer a justa curiosidade do leitor, descrevendo minuciosamente o manuscripto, e declarando o systema que seguimos ao dal-o ? estampa.

O luminoso estudo ?cerca da existencia ou n?o existencia do feudalismo em Portugal comp?e-se de oito capitulos completos e um apenas come?ado, al?m de algumas folhas avulsas, de que adeante nos occuparemos.

Incommodos de saude mais ou menos graves, trabalhos litterarios de outra indole, e varios negocios domesticos, impediram ent?o o auctor de proseguir n'este importante assumpto, e foram causa de n?o possuirmos hoje completo mais um livro serio, coisa de extrema raridade nos tempos que v?o correndo.

Quando, d'ahi a muitos mezes, recuperada a saude e dispondo do tempo necessario, p?de dedicar-se de novo ao exame da obra do sr. C?rdenas, tudo nos persuade de que trazia profundamente alterado o plano primitivo do seu trabalho. Achou-se, sem duvida, apertado e tolhido nos estreitos limites em que a principio o circumscrevera, e resolveu abrir mais largo campo, onde podesse desenvolver a grande copia de noticias que enthezourara, e que directa ou indirectamente se prendian com o assumpto em discuss?o.

Restavam ainda duas folhas da primeira composi??o, que n?o tinham sido aproveitadas, nem podiamos introduzir no texto, embora se conhe?a que deviam fazer do capitulo que ficou por acabar. S?o, por?m, t?o importantes, e formam por si s?s um corpo de doutrina t?o perfeito, que julgamos prestar um servi?o, formando com ellas o Esclarecemento A, no fim do volume.

Entre Fern?o Lopes e fr. Antonio Brand?o mediaram dois seculos. Entre o douto cisterciense e o auctor d'este livro outros dois, e bem medidos. Oxal? que, d'esta vez, seja mais curto o prazo, em que tenha de apparecer o continuador idoneo dos trabalhos, que Alexandre Herculano deixou interrompidos.

HISTORIADORES PORTUGUEZES

T?o raros ou t?o pouco lido andam os antigos escriptores portuguezes, que muitas pessoas ha, n?o de todo hospedes nas letras, que apenas de nome os conhecem, e frequentes vezes nem de nome. Grave mal, por certo, e mui de lamentar ? tal e t?o ingrato desamor ?quelles que assim lidaram em suas doutas vigilias ou para nos transmittirem as heroicas fa?anhas de nossos antepassados, ou para nos doutrinarem com virtuosos conselhos, ou para nos consolarem com um brado de poesia de mais singelas eras, ou, finalmente, para nos herdarem sua sciencia; que muita e boa a tiveram. Assustam os livros pesados e volumosos do tempo passado as almas debeis da gera??o presente: a aspereza e severidade do estylo e linguagem de nossos velhos escriptores offende o paladar mimoso dos affeitos ao polido e suave dos livros francezes. Sabemos assim quaes s?o os documentos em que estribam glorias alheias: ignoramos quaes sejam os da propria, ou, se os conhecemos, ? porque estranhos nol-os apontam, viciando-os quasi sempre. Symptoma terrivel da decadencia de uma na??o ? este; porque o ? da decadencia da nacionalidade, a peior de todas; porque tal symptoma s? apparece no corpo social quando este est? a ponto de dissolver-se, ou quando um despotismo ferrenho poz os homens ao livel dos brutos. Desenterra a Allemanha do p? dos cartorios e bibliothecas seus velhos chronicons, seus poemas dos Nibelungos e Minnesingers; os escriptores encarnam na poesia, no drama e na novella actual as tradi??es populares, as antigas glorias germanicas, e os costumes e opini?es que foram: o mesmo fazem a Inglaterra de hoje ? velha Inglaterra, e a Fran?a de hoje ? velha Fran?a: os povos do Norte sa?dam o Edda e os Sagas da Irlanda, e interrogam com religioso respeito as pedras runicas, cobertas de musgos e sumidas no amago das selvas: todas as na??es, emfim, querem alimentar-se e viver da propria substancia. E n?s? Reimprimimos os nossos chronistas? Publicamos os nossos numerosos ineditos? Revolvemos os archivos? Estudamos os monumentos, as leis, os usos, as cren?as, os livros, herdados de avoengos?

N?o.--Vamos todos os dias ?s lojas dos livreiros saber se chegou alguma nova semsaboria de Paul de Kock; alguma exaggera??o novelleira do pseudonymo Michel Massan; algum libello antisocial de Lamennais. Depois, corremos a derrubar monumentos, a converter em latrinas ou tabernas os logares consagrados pela historia ou pela religi?o...

E, depois, se vos perguntarem: de que na??o sois? respondereis: Portuguezes!

Callae-vos; que mentis desfa?adamente.

Mas n?s faremos lembrada, ao menos aqui, a nossa gloria litteraria.

Como o pae da historia nacional, como o velho Fern?o Lopes, come??mos a escrever as memorias que d'elle restam moralisando primeiro, do mesmo modo que elle moralisava antes de entrar na materia. N?o se nos leve a mal um defeito, se o ?, em que j? caiu o nosso principal chronista, quando ? d'elle que devemos fallar.

Escassas s?o as noticias que chegaram at? n?s ?cerca de Fern?o Lopes. A epocha do seu nascimento ignora-se; mas parece que devia ser na da gloriosa revolu??o de 1380, ou alguns annos antes. O abbade Barbosa e outros dizem que f?ra secretario d'el-rei D. Duarte, quando infante, e de seu irm?o D. Fernando, e cavalleiro da casa do infante D. Henrique. Em 1418 foi encarregado por D. Jo?o I da guarda do real archivo, cargo que at? ent?o andava unido a um emprego da fazenda publica.

A Fern?o Lopes succedeu no cargo de guarda dos archivos Gomes Eannes de Azurara, como dissemos no primeiro artigo, com o consentimento d'elle, que por velho e doente de boa vontade resignou o emprego, que t?o dignamente servira. Foi Gomes Eannes filho de Jo?o Eannes de Zurara ou de Azurara, conego de Evora e de Coimbra. Entrou, sendo mancebo, na ordem de cavalleria de Christo, onde chegou a ter o grau de commendador de Alcains, a qual commenda possuia em 1454, e que depois trocou pelas do Pinheiro-grande e da Granja de Ulmeiro, que achamos serem suas pelos annos de 1459.

Parece que durante a sua mocidade Gomes Eannes, segundo o costume dos cavalheiros d'aquelles tempos, se occupou inteiramente no exercicio das armas, sem curar de instruir-se nas boas letras. Verdade ? que o abbade Barbosa o faz erudito na historia desde mancebo; mas o mestre Matheus de Pisano, seu contemporaneo, preceptor de D. Affonso V e auctor de uma chronica da conquista de Ceuta, escripta em latim, diz que, sendo j? de idade madura, se applic?ra ao estudo, mas que at? ent?o f?ra inteiramente hospede em litteratura.

Foi depois d'esta epocha que Gomes Eannes entrou no servi?o d'el-rei D. Affonso V, como guarda da Torre do Tombo, segundo se colhe da carta de sua nomea??o, passada a 6 de Junho de 1454; como bibliothecario da livraria real fundada por aquelle monarcha, do que nos informa mestre Matheus na obra citada; e como encarregado de escrever varias chronicas das cousas portuguezas, conforme o diz o proprio Azurara no capitulo II da Chronica do conde D. Pedro de Menezes.

Documentos d'aquelle tempo provam D. Affonso V fizera grande estima??o de Gomes Eannes. Morava este em umas casas d'el-rei ? porta do pa?o de Lisboa; tinha uma ten?a de doze mil reaes brancos; e fez-se-lhe merc?, em 1467, de uma capella que vagara para a cor?a, gra?a esta que, como observa o abbade Corr?a da Serra, era n'aquelles tempos assaz extraordinaria. Doou-lhe, tambem, el-rei umas casas em Lisboa, do que se acha memoria no livro 3.^o dos Misticos. Antes d'isto, por?m, Gomes Eannes era homem abastado, segundo se colhe de outros documentos coevos.

Apesar da estima??o e respeito que merecera Fern?o Lopes aos seus contemporaneos, parece que o seu immediato successor lhe levou n'isso conhecida vantagem, posto que muito inferior lhe fosse em merito. Azurara, tendo de escrever sobre cousas de Africa, passou ?quellas partes, e l? fez larga demora para conhecer miudamente os logares e circumstancias das fa?anhas que tinha de narrar. Estando alli, recebeu a celebre carta de D. Affonso V, que anda impressa no principio da Chronica de D. Duarte de Menezes. Este documento prova qu?o bella era a alma d'aquelle monarcha, a quem podemos sem receio chamar o ultimo rei cavalheiro, e cuja honrada memoria teem pretendido escurecer aquelles que s? em seu filho encontram um grande homem. V?-se nesta carta que D. Affonso entendia que uma penna vale bem um sceptro, e o engenho um throno. De irm?o para irm?o n?o houvera mais affavel e affectuosa linguagem, e mais generosas anima??es e merc?s. Bem nos p?sa que n?o seja possivel, pela extens?o d'esse documento, o lan?al-o n'este logar; n?o para exemplo de reis, mas de quem mais do que elles carece de t?o formosa li??o, neste seculo que se diz allumiado, e em que ha homens que em nome da patria votam miseria e fome para ?quelles que mais bem mer?cem.

Posto, por?m, que Azurara esteja em grau inferior a Fern?o Lopes, n?o deixou de fazer com seus escriptos bom servi?o ? litteratura patria. Jo?o de Barros o tinha em subida conta, e at? no estylo d'elle se comprazia. N?o assim Dami?o de Goes, que foi o primeiro em notar-lhe as affecta??es rhetoricas. Infelizmente para Azurara, Goes era melhor juiz; e a posteridade, confirmando a senten?a do perspicaz chronista de D. Manuel, rejeitou o parecer do historiador da India.

Depois d'esta epocha ainda Ruy de Pina serviu em outra embaixada a Castella e andou envolvido nos difficeis negocios publicos d'aquelle tempo, at? que, succedendo na cor?a D. Manuel, n?o s? lhe confirmou as merc?s do seu antecessor, mas fez-lhe outras novas, dando-lhe finalmente o cargo de chronista-m?r, e guarda-m?r da Torre do Tombo e da livraria real.

Em 1504 tinha Ruy de Pina concluido os seus trabalhos historicos, porque n'esse anno recebeu de D. Manuel uma nova ten?a de trinta mil r?is pelas chronicas de D. Affonso V e de D. Jo?o II, accrescentando a esta somma cinco moios de trigo em Ceuta e um cazal d'el-rei no termo da Guarda.

Segundo o testemunho de Jo?o de Barros, Ruy de Pina foi uma potencia litteraria no seu tempo. O historiador da India refere que o grande Affonso de Albuquerque tivera a fraqueza de enviar joias a Ruy de Pina, para que se n?o esquecesse d'elle na sua historia. Aquella cujo nome devia encher o mundo n?o teve a consciencia de que era o maior capit?o do seculo, ? creu que a sua immortalidade dependia de um chronista obscuro! Triste documento de que os genios mais portentosos est?o como os homens ordinarios sujeitos ?s mais ridiculas fraquezas.

Pour tout esprit que le bon homme avait, Il compilait, compilait, compilait.

Em Ruy de Pina raro se encontra a historia da na??o: em Garcia de Rezende talvez nunca. Fern?o Lopes e Azarara tinham escripto no tempo de Affonso V: estes escreviam no de D. Manuel. D'ahi prov?m a differen?a.

Em poucas palavras o pouco que se sabe da biographia de Rezende.

Em 1514 foi a Roma como secretario de embaixador Trist?o da Cunha, mandado ao papa por el-rei D. Manuel. Voltando ? patria morreu em Evora, n?o sabemos em que anno, e jaz no convento do Espinheiro.

CARTAS SOBRE A HISTORIA DE PORTUGAL

Quando, volvendo os olhos para os tempos remotos, indagamos a historia de nossos antepassados e da terra em que nascemos, a primeira pergunta que nos occorre para fazermos ?s tradi??es e monumentos ? naturalmente a seguinte: onde, quando, e como nasceu este individuo moral chamado a Na??o? O ber?o da sociedade de ser, com effeito, a primeira pagina da sua historia.

Pelo contrario os reinos christ?os da Hespanha eram mais homogeneos: havia ahi muitas dissidencias de ambi??o; por?m as incompatibilidades de ra?a quasi que n?o existiam, porque s? no reinado de Affonso VI os francezes vieram influir na Peninsula, mas como individuos e n?o como na??o, e esta influencia foi ainda ecclesiastica do que politica. N?o houve uma colonisa??o franceza nos dominios de Affonso VI: houve sim a colloca??o de bispos daquelle paiz em muitas dioceses, o chamamento de muitos principes e cavalleiros da Fran?a aos cargos politicos e militares. Estes estrangeiros traziam as id?as e as institui??es da sua terra natal, traziam ?s vezes a oppress?o, mas incorporavam-se na ra?a goda. Se impunham habitos e costumes estranhos, acceitavam tambem muitos usos e id?as da nova patria, os seus filhos eram inteiramente hespanhoes, e este elemento adventic?o de povoa??o, em vez de contribuir para o enfraquecimento da for?a social, servia realmente para a fortalecer.

Os resultados das invas?es e conquistas, que de continuo arabes e christ?os faziam mutuamente nos territorios dos seus a adversarios, eram tambem diversos. Ainda rebaixando no que dizem os escriptores arabes sobre a excessiva povoa??o das Hespanhas, ? indubitavel que nas provincias dominadas pelos serracenos ella foi muito mais numerosa do que hoje ?. Esta povoa??o, por?m, era em grande parte romano-gothica ou mosarabe, e, como j? disse, para ella as invas?es feitas pelos homens da mesma cren?a n?o podiam ser consideradas como destinadas a subjuga-la mas a quebrar-lhe o jugo dos infieis. Esta circumstancia tornava-se tanto mais importante, quanto ? certo que os wisigodos que acceitaram o dominio arabe, ficaram na mesma situa??o civil em que se achavam no momento da conquista, e por consequencia possuidores de riquezas, senhores de servos, superiores por isso for?osamente a uma parte da popula??o arabe, e iguaes da mais abastada. Assim n?o s? eram um poderoso auxilio para os christ?os no meio dos inimigos, mas por muitas vezes bastaram por si s?s para expulsar d'algumas povoa??es os conquistadores sarracenos.

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